AS MULHERES IRANIANAS E OS BLOGUES
Apesar de poderem votar, conduzir e de até estarem em maioria nas universidades, as mulheres do Irão continuam a poder ser presas apenas porque não estão vestidas segundo o código islâmico imposto pelo regime. Discriminadas, apesar de menos do que noutros países islâmicos, as iranianas encontraram na blogosfera um último reduto que lhes permite resistir ao ultraconservadorismo do Presidente Mahmud Ahmadinejad, longe da repressão da polícia. Críticas ao regime ou desabafos sobre a vida sexual, tudo é possível no "bloguistão", a palavra que os iranianos usam para designar a blogosfera. Actualmente existem mais de 700 mil blogues em farsi - língua oficial do Irão - metade dos quais escritos por mulheres. "É uma forma de as iranianas dizerem 'resistimos e vamos continuar a mobilizar-nos' apesar das detenções e pressões", disse ao Le Figaro a socióloga iraniana Masserat Amir Ebrahimi. Especialmente apreciado pelas defensoras dos direitos humanos, o "bloguistão" revela-se uma boa forma de fugir à censura: quando esta encerra um site, basta ao seu autor abrir um novo noutro endereço. Mas a liberdade dos cibernautas revela-se por vezes tão virtual como a realidade em que se movem.
Num artigo sobre a importância da blogosfera para as iranianas, o diário espanhol El Mundo revelava há dias que, em Março, quatro feministas foram condenadas por terem defendido nos seus sites a melhoria da condição da mulher no Irão. Responsáveis pela campanha "um milhão de assinaturas para a alteração das leis que discriminam as mulheres", as quatro foram acusadas de atentado à segurança nacional. E podem ser condenadas a penas de seis meses a dois anos e meio de prisão.
Tendo gozado de uma liberdade pouco comum num país muçulmano durante o regime do xá Reza Pahlevi - que nomeou várias ministras, juízas e autorizou as mulheres a usarem roupas ocidentais -, as iranianas viram o seu estatuto mudar com a Revolução Islâmica de 1979 e a chegada ao poder do ayatollah Khomeini. Hoje, podem ser apedrejadas por cometer adultério, a custódia dos filhos é automaticamente entregue ao homem em caso de divórcio e apenas têm direito a herdar metade daquilo que os homens herdam. Mesmo assim, as iranianas têm melhor acesso à educação do que outras muçulmanas e são jornalistas, médicas ou advogadas - situação impensável, por exemplo, na Arábia Saudita.
Igualdade
Se aos olhos da charia (lei islâmica) a vida de uma mulher vale metade da de um homem, na blogosfera as cibernautas sentem-se iguais aos colegas do sexo masculino. É verdade que têm de usar pseudónimos - Dona Sol, A Ameixa, A Esposa, por exemplo -, mas, quer sejam mães de família ou estudantes, estas iranianas têm online a oportunidade de se exprimirem livremente, que o regime lhes nega. "O movimento feminista não é homogéneo. Há laicas, islamitas e mulheres de vários extractos sociais. Mas todas estão unidas para conseguir a igualdade de direitos", explicou ao El Mundo María Jesús Merinero, professora na Universidade da Extremadura e autora do ensaio Resistencia creadora en Irán. Para além das críticas de cariz político, os diários virtuais são o único local onde as iranianas podem falar de assuntos tabus como o sexo. E algumas delas não escondem mesmo nada. "Dormir com um homem qualquer? Não é um problema", confia uma cibernauta que recorre a um pseudónimo. O seu blogue é, segundo Le Figaro, inteiramente dedicado aos seus encontros amorosos, desmistificando a questão da perda da virgindade antes do casamento. Já este ano, o Governo de Teerão ordenou o encerramento de todos os sites cujos autores não estejam identificados. Mas muitas bloguistas continuam a resistir e garantem: "A censura torna-nos mais criativas". Fonte: HELENA TECEDEIRO, Público
Num artigo sobre a importância da blogosfera para as iranianas, o diário espanhol El Mundo revelava há dias que, em Março, quatro feministas foram condenadas por terem defendido nos seus sites a melhoria da condição da mulher no Irão. Responsáveis pela campanha "um milhão de assinaturas para a alteração das leis que discriminam as mulheres", as quatro foram acusadas de atentado à segurança nacional. E podem ser condenadas a penas de seis meses a dois anos e meio de prisão.
Tendo gozado de uma liberdade pouco comum num país muçulmano durante o regime do xá Reza Pahlevi - que nomeou várias ministras, juízas e autorizou as mulheres a usarem roupas ocidentais -, as iranianas viram o seu estatuto mudar com a Revolução Islâmica de 1979 e a chegada ao poder do ayatollah Khomeini. Hoje, podem ser apedrejadas por cometer adultério, a custódia dos filhos é automaticamente entregue ao homem em caso de divórcio e apenas têm direito a herdar metade daquilo que os homens herdam. Mesmo assim, as iranianas têm melhor acesso à educação do que outras muçulmanas e são jornalistas, médicas ou advogadas - situação impensável, por exemplo, na Arábia Saudita.
Igualdade
Se aos olhos da charia (lei islâmica) a vida de uma mulher vale metade da de um homem, na blogosfera as cibernautas sentem-se iguais aos colegas do sexo masculino. É verdade que têm de usar pseudónimos - Dona Sol, A Ameixa, A Esposa, por exemplo -, mas, quer sejam mães de família ou estudantes, estas iranianas têm online a oportunidade de se exprimirem livremente, que o regime lhes nega. "O movimento feminista não é homogéneo. Há laicas, islamitas e mulheres de vários extractos sociais. Mas todas estão unidas para conseguir a igualdade de direitos", explicou ao El Mundo María Jesús Merinero, professora na Universidade da Extremadura e autora do ensaio Resistencia creadora en Irán. Para além das críticas de cariz político, os diários virtuais são o único local onde as iranianas podem falar de assuntos tabus como o sexo. E algumas delas não escondem mesmo nada. "Dormir com um homem qualquer? Não é um problema", confia uma cibernauta que recorre a um pseudónimo. O seu blogue é, segundo Le Figaro, inteiramente dedicado aos seus encontros amorosos, desmistificando a questão da perda da virgindade antes do casamento. Já este ano, o Governo de Teerão ordenou o encerramento de todos os sites cujos autores não estejam identificados. Mas muitas bloguistas continuam a resistir e garantem: "A censura torna-nos mais criativas". Fonte: HELENA TECEDEIRO, Público
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