AS MULHERES IRANIANAS E OS BLOGUES
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Num artigo sobre a importância da blogosfera para as iranianas, o diário espanhol El Mundo revelava há dias que, em Março, quatro feministas foram condenadas por terem defendido nos seus sites a melhoria da condição da mulher no Irão. Responsáveis pela campanha "um milhão de assinaturas para a alteração das leis que discriminam as mulheres", as quatro foram acusadas de atentado à segurança nacional. E podem ser condenadas a penas de seis meses a dois anos e meio de prisão.
Tendo gozado de uma liberdade pouco comum num país muçulmano durante o regime do xá Reza Pahlevi - que nomeou várias ministras, juízas e autorizou as mulheres a usarem roupas ocidentais -, as iranianas viram o seu estatuto mudar com a Revolução Islâmica de 1979 e a chegada ao poder do ayatollah Khomeini. Hoje, podem ser apedrejadas por cometer adultério, a custódia dos filhos é automaticamente entregue ao homem em caso de divórcio e apenas têm direito a herdar metade daquilo que os homens herdam. Mesmo assim, as iranianas têm melhor acesso à educação do que outras muçulmanas e são jornalistas, médicas ou advogadas - situação impensável, por exemplo, na Arábia Saudita.
Igualdade
Se aos olhos da charia (lei islâmica) a vida de uma mulher vale metade da de um homem, na blogosfera as cibernautas sentem-se iguais aos colegas do sexo masculino. É verdade que têm de usar pseudónimos - Dona Sol, A Ameixa, A Esposa, por exemplo -, mas, quer sejam mães de família ou estudantes, estas iranianas têm online a oportunidade de se exprimirem livremente, que o regime lhes nega. "O movimento feminista não é homogéneo. Há laicas, islamitas e mulheres de vários extractos sociais. Mas todas estão unidas para conseguir a igualdade de direitos", explicou ao El Mundo María Jesús Merinero, professora na Universidade da Extremadura e autora do ensaio Resistencia creadora en Irán. Para além das críticas de cariz político, os diários virtuais são o único local onde as iranianas podem falar de assuntos tabus como o sexo. E algumas delas não escondem mesmo nada. "Dormir com um homem qualquer? Não é um problema", confia uma cibernauta que recorre a um pseudónimo. O seu blogue é, segundo Le Figaro, inteiramente dedicado aos seus encontros amorosos, desmistificando a questão da perda da virgindade antes do casamento. Já este ano, o Governo de Teerão ordenou o encerramento de todos os sites cujos autores não estejam identificados. Mas muitas bloguistas continuam a resistir e garantem: "A censura torna-nos mais criativas". Fonte: HELENA TECEDEIRO, Público
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