PINACULOS

Opinião e coisas do nosso mundo...

segunda-feira, 4 de junho de 2007

Artigo: DUAS NOTAS

I. Quando este estranho ministro das Obras Públicas, Mário Lino de seu nome, numa cerimónia pública recentemente realizada, perante mais de 750 pessoas, fez humor, desnecessário e perfeitamente tonto, com as suas habilitações académicas, com a sua profissão de engenheiro e com o facto de estar inscrito na ordem dos Engenheiros - tudo isto escassos dias depois da entrevista de Sócrates à RTP no culminar de semanas de polémica e de exageros também à mistura, a propósito do diploma do primeiro-ministro - comigo estava “frito”. Num governo liderado por mim (e depois do primeiro-ministro ter passado por um conturbado período de especulação, polémica e suspeição, tudo porque foi muito mal gerido, desde o primeiro momento), esse ministro não podia fazer parte, não tinha condições políticas e pessoais para continuar em funções. E pouco me importa o que dizem os apologistas da velha máxima do “make love not war”. Mas a verdade é que ele lá continua, a chamar o sul do país de “deserto” a ser alvo de gozo generalizado, trazendo para a confusão o próprio Almeida Santos, Presidente do PS, que misturou atentados terroristas em pontes com aeroportos, etc. Uma baralhada que apenas tem aumentado a confusão entre as pessoas e obrigado o governo socialista - como o próprio Sócrates na semana passada reconheceu no Parlamento – a ter que repensar o debate por reconhecer que crescem as dúvidas em torno da OTA. É um facto que José Sócrates disse que para o Executivo não há espaço para rever a localização do novo aeroporto internacional de Lisboa. Mas ao deixar porta aberta a um debate, isso por si só representa a existência de dúvidas que podem fragilizar o governo socialista, um risco que ele não quer, nem pode correr.
II. Se há coisa que mais me incomoda é constatar que, em nome do primado das “caixas” para vender jornais ou obrigar as pessoas a ver televisão ou ouvir rádio, se acabe, mesmo que inadvertidamente, por manipular situações ou apresentar factos de uma forma que é passível de provocar múltiplas interpretações, deturpam factos e dando uma imagem distorcida da realidade. Há dias, por exemplo, fui contactado por um jornalista local – que nem conheço, pelo que estou à vontade – que me informou da intenção do seu jornal em dedicar algum espaço ao reinício da actividade parlamentar, pretendendo para o efeito ouvir também alguns funcionários mais antigos, alegadamente para junto deles colher histórias interessantes do passado do parlamentarismo madeirense.
De facto, razão têm por vezes os que há muito tempo sugerem, com insistência, que deixe de colaborar com os meios de comunicação social, que abandone o que dizem ser a perspectiva ”corporativista e classista”, que recuse a prestação de informações sempre, de lhes prestar declarações ou mesmo de lhes dar esclarecimentos quando informalmente pedidos. Recuso fazê-lo por um questão de princípio, porque tendo sido jornalista, sei muito bem a necessidade, em determinados momentos, do acesso a fontes de informação, ainda por cima quando não são muitos os profissionais da comunicação social totalmente identificados com as regras de funcionamento do parlamento regional, independentemente dos erros ou virtudes que aquele possa ter, a exemplo de todos os parlamentos do mundo.
A verdade é que o que foi publicado - depois da recusa dos três funcionários sugeridos, todos eles estão na Assembleia desde 1976 e, que verdade seja dita, não precisam de jornalistas para nada - não sei com que motivações, embora acredite que não tenha havido alguma intencionalidade propositada de achincalhamento, dá a ideia da existência de um patético e absurdo controlo institucional sobre os funcionários, ou que o sistema vigente na Assembleia Legislativa impede os funcionários de falar. Os funcionários sabem, que isso é uma atoarda do tamanho do mundo e, de uma forma ainda mais vincada na parte que me toca, já que nunca, repito, nunca, tomei qualquer iniciativa castradora fosse do que fosse ou de quem fosse, assim como nenhum funcionário pode afirmar ter sido alguma vez proibido de fazer fosse o que fosse. Eu acho que nestas coisas, do chamado jornalismo ”maçarico” (sem ofensa, mas sem negar que a experiência é fundamental em determinados momentos e trabalhos), que haver, pelo menos assim penso, o cuidado de não deturpar realidades ou, pior do que isso, criar condições para que as pessoas se distanciem. O facto dos funcionários sugeridos não terem prestado declarações ao jornalista, é uma questão que lhes diz exclusivamente respeito a eles. Eu sei que a imagem do Parlamento, em grande medida por tudo o que aparece nos meios de comunicação social., anda pelas “ruas da amargura”. Mas é evidente que nem, os funcionários desse têm culpa, nem se pode apreciar factos de forma errada, só porque é preciso criar “ambiente” para extrapolações e comentários assentes em pressupostos perfeitamente inexistentes. Eu acho que não podia deixar de publicar esta nota. Repetindo que não acredito em intencionalidade deliberada
Luís Filipe Malheiro
Jornal da Madeira, 05 de Junho 2007

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