PINACULOS

Opinião e coisas do nosso mundo...

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

Artigo: Atenção redobrada

É fundamental que os portugueses olhem com atenção, com atenção redobrada, para tudo o que se passa neste país de brandos costumes, porque uma coisa é a realidade, sentida quotidianamente pelos cidadãos, outra coisa são os “paraísos” que a propaganda, com a cumplicidade de vários meios de comunicação social, tem procurado “vender-nos”. Repare-se por exemplo, numa notícia publicada há dias num jornal de Lisboa de grande tiragem: “A diferença entre as receitas fiscais previstas pelo Governo e as antecipadas pela Comissão Europeia atinge, para os próximos dois anos, os 1000 milhões de euros. É esta a verba que, no caso de as projecções de Bruxelas vierem a provar estar mais correctas, o Executivo terá de conseguir compensar através de medidas adicionais de contenção da despesa ou aumento da receita, se quiser cumprir o objectivo de redução do défice público para um valor inferior a três por cento até 2008. No Programa de Estabilidade e Crescimento, PEC, para o período de 2006 a 2010, apresentado em Dezembro do ano passado, o Governo aponta para taxas de crescimento das receitas fiscais de 5,8 e 5,1% em 2007 e 2008, respectivamente. Para os mesmos dois anos, a Comissão Europeia, nas previsões de Outono publicadas em Outubro, antecipa valores mais moderados de 4,7 e 4,8 por cento. Estas diferenças nas taxas de variação fazem com que, em 2007, a receita prevista pelo Governo seja 400 milhões de euros superior ao antecipado por Bruxelas. Valor que aumenta para 600 milhões de euros em 2008”. Quer isto dizer — e não precisam as pessoas se puxar demasiado pelas células cinzentas — que se existe uma previsão de receitas inferior à que o governo socialista anunciou, isso significa, apenas e tão só, que esse governo que deturpa e empola dados, vai ter que tomar medidas adicionais para que o nível de receitas necessárias seja alcançado, sob pena de, a não ser assim, o défice orçamental resvalar outra vez para valores perigosamente ameaçadores. Mas alguém leu ou ouviu alguma coisa sobre isto na comunicação social? Nada disso. Notícias “derretidas” no alinhamento de telejornais, lidas quando as pessoas já estão “fartas” dos infindáveis blocos informativos das nossas televisões, ou escondidas nas páginas interiores dos jornais para que as pessoas não se apercebam do embuste. Mais. Na semana passada, o Instituto Nacional de Estatística anunciou os resultados do Inquérito ao Emprego relativos ao quarto trimestre de 2006, “os quais indicam que a população activa em Portugal aumentou 0,4% face ao trimestre homólogo de 2005, e que a taxa de actividade da população em idade activa (15 e mais anos) foi de 62,5%, no quarto trimestre de 2006. Esta taxa manteve o nível do trimestre homólogo e não se afastou de forma significativa do nível do trimestre anterior. A taxa de actividade das mulheres em idade activa foi de 55,9% e a dos homens foi de 69,6%. O INE sublinha que a população desempregada em Portugal, estimada em 458,6 mil indivíduos no quarto trimestre de 2006, registou um acréscimo homólogo de 2,5% (11,3 mil indivíduos) e trimestral de 9,9% (41,2 mil). Ou seja, em média, no ano de 2006, a população desempregada aumentou 1,3% face a 2005, abrangendo 5,5 mil indivíduos. A população desempregada em 2006 foi estimada em 427,8 mil indivíduos. A taxa de desemprego foi estimada em 8,2%, no quarto trimestre de 2006, superior em 0,2 pontos percentuais à do trimestre homólogo de 2005 e em 0,8 pontos percentuais à do trimestre anterior. A média anual da taxa de desemprego passou de 7,6%, em 2005, para 7,7%, em 2006”. Quer isto dizer — e, repito, as pessoas não precisam de puxar demasiado pelas suas células cinzentas — que se existe um aumento do desemprego, por muito que o governo socialista tente pintar um quadro diferente, isso quer dizer tão somente que para serem pagos mais subsídios de desemprego, o Estado precisa de mais receitas, sob pena do desequilíbrio orçamental ser incontornável. Mas alguém leu ou ouviu alguma coisa sobre isto na comunicação social? Nada disso. Mais do mesmo: notícias “derretidas” no alinhamento de telejornais, lidas quando as pessoas já estão “fartas” dos infindáveis blocos informativos das nossas televisões, ou escondidas nas páginas interiores dos jornais para que as pessoas não se apercebam do embuste. n http://ultraperiferias.blogspot.com PS – Hoje é dia de Carnaval. Dizia o meu saudoso sogro — principalmente quando olhava para os seus genros, e os via disfarçados de “gajas”… — que é normalmente neste dia do Entrudo que homens e mulheres se disfarçam daquilo que queriam ter sido e não foram. Evidentemente que era uma forma amiga e provocatoriamente hilariante de tentar reduzir os genros à insignificância. Ou não fosse ele, sogro e homem de humor apurado, que sabia manter genros à distância. Talvez por isso não tive, nunca tive, qualquer razão de queixa de uma pessoa que admirei, pela frontalidade de querer ser coerente e que viveu o seu tempo, em cada momento, sem medo de dizer o que pensava. Mas nunca me esqueci desta frase “disfarçar-se do que queriam ter sido e nunca foram”. Se transpuser isto para a política, os meus votos é que alguns galos palheiros se deixem de “carnavais”, de intrigas, de ambições de tachos e/ou de poleiro, de usar máscaras que não os disfarçam, porque sabemos que dizem uma coisa quando estão de frente mas dizem outra quando estão pelas costas. É por causa desta solidariedade “disfarçada”, destes “carnavais” pateticamente encenados em que alguns políticos da nossa praça andam mergulhados, e se sentem realizados, que os partidos estão no que estão e a política anda tão amargurada. Mas deixá-los divertirem-se…
Luis Filipe Malheiro
Jornal da Madeira, 20 Fevereiro 2007

Click for Funchal, Madeira Islands Forecast