Artigo: Não enganem
Os socialistas andam a tentar enganar as pessoas sobre as razões da demissão de Alberto João Jardim. O Presidente do Governo Regional não se demite para obrigar os socialistas a alterar a lei das finanças regionais, particularmente as injustiças revanchistas que ela comporta. Mais fácil será esperar pela queda do PS nas próximas eleições nacionais e depois renegociar uma nova lei, menos punitiva para a Madeira. A demissão visa apenas a legitimação. Mas o que é isso? A legitimação de Alberto João Jardim e do PSD da Madeira é, tão-somente, clarificar de uma vez por todas quem ganha as eleições regionais, porque não duvido que o eleitorado madeirense se mobilizará para mostrar que sabe defender a sua dignidade colectiva e punir quem traiu. Ou seja, 2008 era o horizonte de todas as estratégias, o que significa que o PSD/Madeira e Alberto João Jardim estariam permanentemente encostados à parede, sujeitos a humilhações, a manobras de propaganda visando a sua desacreditação (não duvidem que, por este andar, eles iam inventar um dia destes uma lei para imporem as cores das cuecas que teríamos que usar todos os dias da semana...), enfim, ao comportamento grosseiro, hipócrita e rafeiro da maioria parlamentar socialista que a nível nacional vai resistir menos do que pensa. Alguém minimamente inteligente acredita, depois do que se passou desde Março de 2005, que Alberto João Jardim alguma vez esperaria qualquer compreensão de Sócrates e do PS? Estamos a falar do partido mais anti-autonomista de todos, um partido que cultural, política e historicamente sempre se posicionou contra a autonomia regional e olhou com desconfiança os dirigentes regionais democraticamente eleitos pelos Madeirenses e que, desde Março de 2005 (quando o actual governo socrateano tomou posse), mostrou nova faculdade, a juntar a todas as demais, a de ter gerado uma casta regional de elites “consulares” regionais rosas, que mais depressa defendem o ministro da Saúde na sua “guerra” com Valença ou Linda-a-Velha por causa das urgências, do que defendem a Madeira e reclamam medidas menos intolerantes por parte de Lisboa em relação à região. O raciocínio do PS local – pelos vistos vendido de forma patética em Lisboa – foi este: o PSD (e Alberto João Jardim) ganham eleições, porque realizam obras; como realizam obras, promovem inaugurações; porque promovem inaugurações arrastam o povo e mobilizam, os votos; se para sacar votos ao PSD, temos que impedir as inaugurações, se para impedir as inaugurações, temos que impedir as obras, se para impedimos as obras, só há uma forma, fechando a torneia, alterando a lei de finanças regionais e inventando os critérios os mais punitivos para a Madeira, toca a avançar. E foi isso que fizeram, foi rigorosamente isso que aconteceu. Mas não se ficaram por aí. Tendo perdido milhões de fundos comunitários, em virtude de terem saído do grupo das chamadas regiões “Objectivo 1”, havia que dificultar o sucesso que eventualmente a Madeira tivesse (e teve) em minorar o impacto dessa situação. Por isso, nada melhor do que impedir o recurso ao crédito, dar “sopa” a todas as operações bancárias que a Madeira pretenda fazer junto, por exemplo, do BEI para poder financiar os projectos que serão realizados com apoio dos fundos estruturais. Alguém minimamente inteligente acredita que Alberto João Jardim se demitiu para provocar eleições, se recandidatar e obrigar os socialistas de Lisboa, com a maioria absoluta que têm, e com o deserto de eficácia que caracteriza, por enquanto, a oposição, quando era mais do que evidente que isso não aconteceria no actual quadro político e parlamentar nacional? Nada disso. Mais do que uma questão de dignidade colectiva – mas também por causa disso, ressalvando os que aceitam o enxovalho de Lisboa só porque isso é contra Alberto João Jardim e o PSD/Madeira, e por isso lhes agrada, mesmo que os madeirenses sofram os efeitos penalizadores da vingança partidária e do embuste político que está subjacente a tudo isto – o que está em causa são questões políticas e eleitorais, é a imperiosa necessidade de dotar o poder regional, ou não, da legitimidade que precisa, dissipando as dúvidas que existem em Lisboa, desde o eixo Belém-São Bento até eixo Rato – Caetano (Lapa). E quem mais do que o Povo o pode fazer? Alguma vez a legitimidade política de qualquer poder depende apenas do que os iluminados elitistas da política pensam, querem, ou dizem? E se Alberto João Jardim ganhar as eleições com maioria absoluta – por ter sido essa a vontade do povo livre e democraticamente expressa – depois falamos. Antes disso são lucubrações que valem o que valem. Não misturem alhos com bugalhos, não misturem uma decisão política, preventiva, de combate com uma lei de finanças regionais que tem um prazo de vigência até 2013 e que deveria ter saído travada por quem de direito, e não o fez, falhando assim um primeiro desafio à afirmação de uma solidariedade institucional que deveria ter estado preventivamente presente neste debate falhado entre o Estado socialista e a Madeira social-democrata.
Luis Filipe Malheiro
Jornal da Madeira, 26 de Fevereiro 2007
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