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quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

Artigo: Sem solução

Li na semana passada no jornal da “concorrência”, pela primeira vez, um texto oportuno, mas que denunciou a postura cúmplice dos socialistas locais relativamente a todas as decisões tomadas pelos socialistas em Lisboa, contra a Madeira e os Madeirenses. Descobriu o jornal “aqui da frente” (“a defesa permanente das posições do Governo da República tem deixado o PS cada vez mais isolado na Assembleia Legislativa da Madeira. Além das violentas críticas do PSD-Madeira, os socialistas da rua do Surdo têm sido alvo de vários reparos dos outros partidos, à esquerda e à direita, por aceitarem tudo o que vem de Lisboa”), que o PS local raramente se posiciona contra os socialistas de Sócrates, que insiste em comportamentos colonialistas, que actua, pensa, comporta-se e decide em função de interesses eleitorais e de egoísmos partidários. Mas se isso não constitui novidade alguma — porque desde 1976 que é isso exactamente o que se passa com o PS madeirense (?) — o que me intriga é que, finalmente é certo, mas depois de tanto tempo, tenham descoberto — ou melhor dizendo, comecem a descobrir — essa realidade inegável que mancha os socialistas, lhes retira credibilidade e impedem a unidade que a nossa região precisa em momentos particularmente críticos onde mais importante do que defender partidos, ideologias ou membros do governo central, há que nos defender a nós próprios.
Lamentavelmente é esse comportamento do PS — e tenho que reconhecer, para ser justo, que, embora com pouca frequência, é um facto que PCP, CDS/PP e Bloco de Esquerda têm tido a dignidade de assumir posições políticas de defesa da Madeira, as quais nada têm a ver com a diferença que política e partidariamente os separa, naturalmente, do PSD madeirense e da maioria que hoje gere os destinos da Região — que tem alimentado o contencioso das autonomias nos últimos dois anos e que tem consolidado uma bipolarização política regional, que, sendo legítima, poderia ser mais suavizada.
O que é facto é que já ninguém duvida que a polémica em torno da lei das finanças regionais foi o “epicentro” deste confronto político e partidário na Região, tendo-se notado uma cegueira dos socialistas locais (onde cada vez mais é Maximiano Martins que impõe as regras e as opções — e eu sei do que estou a falar, com a absoluta e fundada certeza de que não estou a ser especulativo…) foi o principal desafio colocado aos socialistas, em relação ao qual, uma vez mais, eles falharam em toda a linha, alinhando doentiamente com Lisboa, chegando ao extremo vergonhosamente escandaloso de, repetidamente, considerarem que uma lei de finanças que corta à Madeira 34 milhões de euros (6 milhões de contos) em 2007, que serão de 58 a 65 milhões (11 a 13 milhões de contos em 2008) não prejudica a Região Autónoma.
Segundo o jornal da “concorrência” — num texto que apreciei, confesso, porque elaborado por um jornalista que se dedica às questões parlamentares em concreto, que sabe do que fala e que tem fontes de informação concretas — existe, de facto, uma bipolarização política na Madeira, que ao contrário do que alguns possam pensar, porventura influenciados por propaganda manipulada, não constitui qualquer anormalidade, nem desprestigia a Autonomia e o seu sistema político-parlamentar (em quantos países europeus, democráticos e modernos, a política não passa de uma bipolarização ideológica e partidária efectiva, por exemplo entre conservadores e trabalhistas, democratas e republicanos, socialistas e populares, social-democratas ou democratas-cristãos, etc?): “Esta bipolarização é frequentemente visível mas não é estática. Quando em causa estão assuntos de ordem regional, mantêm-se os dois blocos mas alteram-se os componentes. Se em causa está a governação regional a oposição junta-se e sozinho fica o grupo parlamentar do PSD. Em alguns momentos o PS ensaiou uma tentativa de aproximação ao sentido crítico das outras bancadas, mas sempre com alguma timidez e só em raras ocasiões. Na grande maioria, a linguagem do PSD serviu de álibi à defesa que o PS tem feito das políticas e governantes nacionais”. Mas qual linguagem? E os princípios, podem de alguma forma eles ser relegados para planos secundários, ou até mesmo ignorados, só por causa de menoridades folclóricas como a linguagem que alegadamente os socialistas abanam para justificaram as suas incongruências, contradições e traições? Estou-me borrifando — repito, borrifando — para as linguagens, mais ou menos agressivas, quando mais importante do que isso se colocam princípios e se exige coerência e dignidade, quando há que defender a Região das investidas colonialistas e desconfiadas que sistematicamente marcam o relacionamento de Lisboa com o Funchal, e que não é apenas com os socialistas, embora neste caso concreto, graças a uma maioria absoluta parlamentar (um dos maiores erros do eleitorado português), valores estes que nada têm a ver com quem está no poder, no Terreiro do Paço ou na Quinta Vigia. E é isso que alguns têm dificuldade de perceber.
Termino citando, uma vez mais, o texto da “concorrência” que venho comentando: “No Parlamento a estratégia socialista é encarada como reveladora de falta de visão política. Deputados de todos os outros grupos já por mais de uma vez alertaram, mesmo em plenário, para a possibilidade de o PS estar a enveredar por um caminho de difícil retorno. Sobretudo quando a Madeira vive um momento de forte crispação política com Lisboa, sendo esse quadro usado repetidamente para justificar qualquer motivo de aperto financeiro ou dificuldades da governação regional. Por vezes os alertas surgem mesmo sob a forma de avisos. Há quem afirme que o eleitorado, nas regionais de 2008, não vai esquecer a "traição" do PS, essencialmente na polémica Lei de Finanças das Regiões Autónomas”.
Luís Filipe Malheiro
Jornal da Madeira, 22 Fevereiro 2007

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