Artigo: Curiosidades…
O fidalgo Louçã disse à saída da audiência do Cavaco Silva que a demissão de Alberto João Jardim era um insulto à inteligência dos Madeirenses, como se alguém lhe tivesse passado qualquer preocupação para emitir juízos de valor sobre os níveis de inteligência e de liberdade dos Madeirenses, de cada um deles. Ontem, na Assembleia Legislativa da Madeira, o deputado do PS local, Vítor Freitas, disse que a demissão de Alberto João Jardim era uma “traição” aos madeirenses, como se estes lhe tivessem passado qualquer procuração para abordar a temática — aliás bastante conhecida e praticado pelos socialistas locais, de tradições, traidores, etc — e como se o assassinado fosse o culpado de ter sido morto e não devesse o assassino ser detido, julgado e condenado. Eu acredito, e faço muita questão disso, na inteligência do eleitorado madeirense, sobretudo a partir do que se vai passar, a todos os níveis, a partir de agora e até à noite de 6 de Maio. A estratégia está clarificada, os socialistas perceberam — e eu sei que já perceberam isso — em desmontar as armadilhas que eles próprios montaram e nas quais caíram, terão dificuldade, senão mesmo confrontar-se-ão com a impossibilidade de provarem que não traíram a Madeira e que não foram cúmplices de medidas aprovadas pelos socialistas de Lisboa clara e propositadamente visando Alberto João Jardim e o PSD mas prejudicando a Região e o seu Povo, indiscriminadamente, ou seja, independentemente de terem votado no partido A, B ou C. Se de Louçã já o ouvimos falar e rimos, rimos muito, não só por causa do seu protagonismo — aparece em tudo, fala de tudo, “esmaga” tudo no seu partido — mas de como fala, do ódio que transmite permanentemente, porque conhecemos o radicalismo fundamentalista do referido antigo dirigente do pequenote PSR, já de Vítor Freitas a coisa é diferente porquanto, mais do que roçar o hilariante, não deixa de constituir um atentado à inteligência de qualquer cidadão minimamente informado e inteligente, querer transformar uma demissão política, inevitável e única resposta adequada a uma série de patifarias desencadeadas em catadupa contra a Madeira e contra o próprio Jardim numa “traição” não lembra o “diabo”. Julgo saber como nasceu, por obra e graça de quem, onde e porquê, essa história dos 2% do orçamento (a verba que Lisboa deixa de enviar para a Madeira, os cerca de 35 milhões de euros, ou se preferirem os quase 7 milhões de contos) que inevitavelmente teria de chegar à primeira página do “Expresso”. O problema não é esse. Em termos financeiros é vergonhoso, hipócrita, rafeiro, rasca, traiçoeiro, desonesto e medíocre querer defender o indefensável, a teoria de que deve ser considerada uma “normalidade” cortar 7 milhões de contos a uma Região, e minimizar esse facto como se se tratasse de simples “amendoins” num bolo orçamental mais amplo. Quanto a mim, poderiam ser apenas 10 euros porque, e tudo dependente das circunstâncias em que tudo isso fosse feito, estaria sempre perante uma atitude discriminatória e discricionária visando penalizar deliberadamente a Madeira pelo simples facto do seu Povo pensar e votar de forma diferente, ou seja, por votar e pensar contra os socialistas e votar no PSD e em Alberto João Jardim. Eu também posso lamentar (e até poderia especular pelo valor da obra, pela insistência, etc) o facto do nosso país e da propaganda socialista andarem mergulhados em discussões em torno de um milionaríssimo projecto do TGV enquanto que por esse país fora, como foi o caso recente no Tua, há carruagens a cair ao rio porque ninguém liga patavina às velhas linhas férreas que levam o comboio ao interior mais esquecido e abandonado desse país, nem aos equipamentos que nelas circulam Por outro lado, continuam alguns idiotas, em Lisboa, a pretender associar a decisão de Alberto João Jardim à questão do dinheiro, não só para desvalorizarem o impacto político desse facto, mas para insistirem na ofensa de nos chamarem a todos, porque nisto não há diferenças entre eleitores do partido A, B ou C, de “chulos” do orçamento do Estado, como se se tratasse de uma tarte de amêndoa onde apenas alguns têm direito a meter o dente. Há dias, a propósito de comentadores, ouvi numa televisão um desses hipócritas ressabiados (cujas causas da frustração generalizada, contra tudo e contra todos, daria para um livro), e que tem tanto de sério e isento, como eu de chinês, insinuar (ou pelo menos andou lá perto) que na Madeira não pagávamos impostos e que, pior do que isso, as obras aqui realizadas seriam pagas pelos continentais. Uma vergonhosa argumentação reveladora da mediocridade doentia (para não dizer algo mais incisivo...) de quem deveria ter um palmo de vergonha na cara e um espelho pendurado na porta de saída de casa. Ainda no passado fim-de-semana um desses jornais falava na demissão por 2% do orçamento regional, exactamente o argumento dos socialistas locais e de certos “independentes” quer por ai andam, mexendo-se nas catacumbas, mas sendo na prática os verdadeiros “conselheiros acácios” de Serrão e companhia. Mas isso ficará para outras núpcias. E quão duvidoso jornalismo é aquele que constrói capas com base em teorias alimentadas (ou mesmo sugeridas) por oposicionistas, ou os tais “independentes” de pacotilha que todos conhecem, em mensagens SMS ou telefonemas, onde se “compram” destaques e/ou “vendem” ideias. O mal deste país de trafulhas e trafulhices, e de gente sem espinha dorsal, é que, se realmente existisse dignidade na política e se de facto os autarcas deste país não fossem liderados por pessoas excessivamente dadas a encolhimentos ou temores, neste momento teríamos o País mergulhado numa crise com mais de 60% dos autarcas eleitos demissionários. Depois queria ver o que faria o poder central em Lisboa e o que diria a tudo isto o Presidente Cavaco…
Luis Filipe Malheiro
Jornal da Madeira, 28 Fevereiro 2007
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