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Opinião e coisas do nosso mundo...

segunda-feira, 12 de março de 2007

Artigo: Eleições regionais (V)

O presidente do Governo Regional apelou recentemente às pessoas que não têm o cartão de eleitor para que fossem às respectivas Juntas de Freguesia afim de renovarem o documento, por forma a poderem exercer o seu direito de voto nas próximas eleições antecipadas de 6 de Maio. João Jardim apelou aos abstencionistas para não deixarem de votar neste plebiscito, seja em que partido for: «Estas eleições não são como as outras. Não é uma brincadeira entre partidos, mas antes uma manifestação daquilo que quer o povo madeirense. Ou aceita as patifarias que os socialistas nos fizeram ou então diz “Parou! Nós somos autónomos, isto vai é para a frente e os senhores connosco não brincam”». É evidente que o Presidente do PSD trouxe para a campanha – e eu concordo em absoluto – uma questão essencial, o combate à abstenção, a obrigação que os partidos têm, e os principais candidatos têm, de mobilizarem, as pessoas, de incutirem nos cidadãos um estado de espírito que os leve ao exercício da cidadania, neste caso votando, independentemente de qual o partido escolhido. O problema não reside nas votações partidárias, embora para os partidos e para os candidatos sejam os votos, e só os votos, que importam. O problema reside, fundamentalmente, em meu entender, no prestígio da Autonomia, na consistência destes 30 anos de percurso político de afirmação da nossa identidade colectiva, enquanto povo, uma caminhada com sucessos e com desaires, com erros e com virtudes. A Madeira não pode assistir a tudo isto, impotente, sem ser capaz de contrariar a tendência crescente de alheamento progressivo do eleitorado (até nas eleições regionais).
Alberto João Jardim introduziu outra componente importante no acto eleitoral de 6 de Maio, o de que a nova legislatura terá apenas 47 deputados, menos 21 que a actual, redução que foi proposta por si, apesar, como reconheceu, da oposição de alguns dentro PSD, alteração essa que foi feita a bem do «interesse da Madeira». E advertiu: «não vai haver maiorias muito grandes. Isto vai ficar muito justo entre maioria e minoria, pelo que se as pessoas não forem votar, arriscam-se a ter uma surpresa desagradável no dia das eleições».
Eu acho que o líder madeirense tem sido pragmático, deve ser pragmático e sobretudo muito claro, inequívoco, na mensagem que transmitir ao eleitorado. As pessoas precisam de compreender tudo o que se passou, precisam que alguém desmonte a tentativa dos socialistas de minimizarem o impacto da lei de finanças regionais para as finanças da Madeira e a tentativa de passar uma esponja sobre tudo o que se passa a nível nacional, e consequências disso também para os cidadãos madeirenses, procurando especular, deambular e deturpar a realidade da administração regional, escondendo mentirosamente os efeitos que os cortes financeiros terão para a Madeira. Suprema hipocrisia de tudo isto é a palhaçada de insistirem na teoria da treta – contando com a cumplicidade irresponsável e ignorante de alguns meios de comunicação social – que a demissão de João Jardim resultou de um “arrufo” por causa de uma verba equivalente a 2% do orçamento regional de 2007, quando já tive oportunidade de o demonstrar, estamos a falar de quase 500 milhões de euros (100 milhões de contos) até 2014, prazo de vigência da nova lei. Mas, paralelamente, existem outros factores, ponderosos, que influenciar a decisão, a única que restava a quem anda na política por um ideal, por princípios e em defesa da dignidade de todos os cidadãos que serve.
Mas este trabalho de esclarecimento, de combate político, não pode ser apenas incumbência de Alberto João Jardim. Tem que ser de uma candidatura toda, porque de nada serve andarem todos histéricos, por vezes demasiado “ameaçadores” e faladores para meu gosto, aos pulinhos tontos, a se fazerem aos lugares, a pressionarem meio universo, a telefonarem a tudo quem é gente, a meterem cunhas indiscriminadamente, para depois de terem o lugar, descansarem à sombra da bananeira, acomodando-se, pensando na reforma política, deixando o odioso e a parte mais difícil para Alberto João Jardim. Isso aconteceu no passado, aconteceu até hoje. Mas não pode continuar a ser assim, sob pena do Presidente do Governo sujeitar-se a um grande desgaste, perfeitamente dispensável, com inevitáveis efeitos eleitorais (isto bem nos livros, não é novidade nenhuma). É isto que eu penso, é isto que eu escrevo, quer queiram ou não, quer gostem ou não. Porque é esta a verdade.

P.S. Dizia há dias o semanário “Expresso”, com algum desgosto sub-repticiamente disfarçado, que o Presidente da República e o primeiro-ministro “conheceram nos últimos 30 dias o seu período mais negro desde que tomaram posse: ambos caíram 4,1%” nos tais barómetros de preferências realizados para aquele jornal. O jornal adiantava a explicação para esta queda: “Cavaco e Sócrates começam a ser associados directamente à conjuntura política, um fenómeno de génese recente: o PR terá sido vítima do desagrado que a promulgação da Lei das Finanças Regionais provocou no seu eleitorado natural, enquanto o PM, além desta factura, parece ter partilhado com o Governo (-2%) o preço da contestação ao mapa das urgências hospitalares”. Curiosamente, e já depois da vitória do ‘sim’ no referendo ao aborto os líderes partidários praticamente mantiveram-se: Jerónimo de Sousa e Marques Mendes desceram (-3,3%), com este último a acusar os efeitos da crise na Câmara de Lisboa, mas Ribeiro e Castro (+0,2%) e Francisco Louçã (+0,8) subiram no tal painel opinativo. Mesmo assim, o coordenador do BE tornou-se o mais popular líder da oposição com um saldo positivo de 4 pontos. Confesso que eu fiquei com uma pena pela queda dos dois senhores. Sói lamentei que esse tombo não tivesse sido maior ainda...

Luis Filipe Malheiro
Jornal da Madeira, 12 de Março 2007

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