PINACULOS

Opinião e coisas do nosso mundo...

domingo, 4 de março de 2007

Artigo: O povo decidirá

Em política, quando a dignidade pessoal é posta em causa, quando sistematicamente se orquestram medidas e se calendarizam procedimentos e/ou decisões destinadas a enxovalhar as pessoas, tudo por causa de sentimentos de vingança ou revanchismos próprios dos medíocres e de gente sem escrúpulos que só nas democracias mais primárias conseguem ascender ao poder, manda a dignidade, no caso dos que a preservam, mais do que a manutenção de tachos ou de pseudo influências de grupos, que se decida entregar ao Povo eleitor — porque é ele que vota em liberdade, em consciência e com convicção, escolhendo o projecto e as pessoas que melhor servem a região — a prerrogativa de votar para se pronunciar. Os socialistas andam histéricos, furiosos quanto baste, a fazer contas, porque perceberam que as coisas agora são diferentes. Não se trata mais de blá-blá-blá, de pretender agudizar o discurso de uma bipolarização à qual o eleitorado madeirense já está habituado, e que será mantida, doa a quem doer, ou de aturar a oligarquia chauvinista do PS local. Trata-se agora de saber, e tão-somente isso, o que diz e quer o Povo. O contra-golpe foi imediatamente posto em marcha, sem sucesso, diga-se em abono da verdade, pelos socialistas que sempre reclamaram eleições, mas que na realidade não queriam eleições antes de Outubro de 2008 (o que explica as reacções patéticas que tiveram), dado que contavam com a cumplicidade rosa transitoriamente no poder em Lisboa, para acentuarem ainda mais o agonizar lento a que tinham decidido submeter a governação regional e particularmente Alberto João Jardim, forçando-o a desistir. Aliás, há um episódio, verdadeiro — porque recuso a mentira — que revela bem o estado de espírito. Quando Alberto João Jardim anunciou pela televisão a demissão, os jornalistas confrontaram-se com aplausos e manifestações de regozijo na sede do PS local — nada melhor que disfarçar… — que rapidamente se calaram quando Alberto João Jardim anunciou a recandidatura. Depois foram os ataques ao Presidente do Governo pela decisão tomada, a acusação de “traição” (vinda de quem veio é espantosa…), a insinuação de que se tratou de uma demissão por causa de 2% do orçamento de Estado e a desesperada tentativa de desvalorização das eleições, alegadamente porque tudo continuará na mesma e que nada se alterará. A ver vamos. O que é evidente é que o objectivo político e eleitoral dos socialistas era Outubro de 2008, e disso não tenho dúvida, e que a intenção subjacente a uma calendarização da oposição, que se não era comum se encontrava lá muito perto, era a de desgastar o PSD e Alberto João Jardim, que surgiria em 2008, como candidato ou não, fragilizado confrontado com acusações de incumprimento do seu programa de governo e claramente impossibilitado de uma recandidatura com garantia de sucesso. Perante esta evidente antecipação dessa calendarização, montada em reuniões realizadas em Lisboa no eixo Rato-São Bento, sobretudo ao longo de 2006, a demissão foi a melhor atitude, e explica o desespero das reacções e a fúria com que o assunto tem sido abordado. Agora, e desconfio que até 6 de Maio assim será, duas ideias-chave serão “vendidas” aos madeirenses: as eleições nada resolvem porque vai tudo continuar na mesma, a demissão causou uma crise (?) política regional, tudo por causa de 2% do orçamento regional. n P.S. Ao fim de todos estes anos, continuo a pensar que o Governo Regional deve intervir de forma exemplar, custe o que custar, doa a quem doer, na questão da banana. Não podemos admitir que o “bananal” se transforme numa espécie de quintal sem rei-nem-roque, onde alguns “chicos espertos” fazem o que bem lhes apetece, protelando pagamentos, desrespeitando os produtores, encontrando “justificações” para patifarias que não são corrobradas quer pelo Governo Regional que garante que transfere a tempo-e-horas os montantes respectivos a quem de direito, quer pelas transferências que as instituições comunitárias formalizam. A existência de 4, 5, 6 ou mais meses de atraso nos pagamentos aos produtores de banana, deve ter uma explicação, tem que ter uma causa plausível, e que deve ser cabalmente esclarecida, sob pena de se instalar a suspeição e das pessoas duvidarem da seriedade das pessoas e do próprio sistema. A opção agora anunciada pelo Governo Regional terá que ser eficaz, não pode ser mais uma solução destinada apenas a criar emprego a meia dúzia de “especialistas” que depois adormecem à sombra da bananeira, caindo numa rotina que acaba por penalizar quem tomou tal decisão. E o Governo Regional, bem como a estrutura partidária que o apoia, não podem sujeitar-se, com uma regularidade quase cíclica — eu até arriscaria duvidar sobre a possibilidade dos “timings” serem cuidadosamente escolhidos… — a um desgaste provocado por irregularidades, que têm que ser combatidas de forma enérgica e exemplar, doa a quem doer, que ainda por cima se transformam rapidamente num “caso” do qual a oposição minoritária não perde tempo a aproveitar-se. Neste caso, com a agravante dos factos falarem por si…
Luis Filipe Malheiro
Jornal da Madeira, 02 de Março 2007

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