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quinta-feira, 1 de março de 2007

Artigo: Patético

Achei hilariante, confesso, ouvir um deputado socialista regional — não propriamente pela crítica à demissão de Alberto João Jardim (porque eu até percebo a aflição dos eternos candidatos de Machico, sobretudo agora que na lista única dificilmente caberão todos…), nem sequer ao patético apelo ao eleitorado para que eleja um novo parlamento — reclamar “mais qualidade” para o nosso parlamento, desiderato só possível de alcançar com os socialistas. Para Bernardo Martins — que continua a querer “vender” ao eleitorado a ideia (que nem prevalece em Machico onde tem acumulado nos últimos anos sucessivas derrotas), de que se trata de um “santinho” vítima da maioria absoluta social-democrata, e que se pavoneia saltitante pelos corredores da Assembleia como se de um inofensivo e exemplar deputado-anjinho se tratasse — só há qualidade com o PS, só há qualidade se os Madeirenses votarem nos socialistas, contra a actual maioria do PSD. Qualidade como? A qualidade expressa na pouca-vergonha, aliás claramente assumida pelos socialistas, em relação ao processo da lei das finanças regionais e a tudo o que, a montante e/ou a jusante desta discussão, teve lugar ao longo destes meses? Mas afinal não temos direito, o dever até, de lutar pela defesa dos nossos direitos? Não têm os madeirenses o direito de lutar contra o facto do poder em Lisboa gastar milhões na OTA e no TGV, ambos localizados na região mais rica do país, e depois cortarem mais de 500 milhões de euros, entre 2007 e 2013, no âmbito da nova lei das finanças regionais, recorrendo apenas a critérios de desenvolvimento regional que têm a ver com o PIB da Madeira? Qualidade como? Pela forma habilidosa, mas denunciada e felizmente assimilada pelo eleitorado madeirense, como foram traídos princípios que deveriam fazer parte, devem fazer parte, da cartilha de qualquer deputado sério, seja ele quem for, desde que esteja empenhado em lutar pelos interesses da terra e da população que alegadamente dizem defender, diga o que disser a oligarquia socialista empoleirada em Lisboa? Porque motivo terá o eleitorado madeirense de votar no PS para ter uma governação com qualidade? Escolhendo entre Bernardo Martins e Tranquada Gomes? Entre Gil França e Coito Pita? Entre Vítor Freitas e Jaime Ramos? Entre Célia Pessegueiro e Nivalda Gonçalves? Maior qualidade como? Escolhendo entre João Cunha e Silva e Fernão Freitas, entre Paulo Fontes e Jaime Leandro, entre Miguel de Sousa e Gil França, entre Alberto João Jardim e Jacinto Serrão? Porventura julgam que o povo é tonto? O patético de tudo isto é simples de entender. Durante meses, desde 2004, quando perderam as eleições regionais por vontade do eleitorado madeirense, e não por decisão do Governo Regional ou por imposição do PSD, os socialistas locais transformaram-se numa espécie de arautos da desgraça. Tudo estava mal, o governo decidia mal, as câmaras não percebiam patavina de nada, o parlamento regional era uma espécie de antro da perdição e da pancadaria, todos roubavam qual cambada de corruptos esfomeados, enfim a Madeira era, toda ela, um inferno. Toda não, um inferno que “poupava” (imagine-se) a Rua do Surdo (sede dos socialistas), provavelmente por ser um qualquer albergue de uma cambada de “anjinhos”, os únicos na face da terra, mais brancos que o branco (como o anúncio do detergente…) mas com o rabo bem preto escondido debaixo da fralda. Refiro-me à oligarquia socialista local, já mergulhada na intriga e na maledicência por causa dos lugares na lista de candidatos (uma sondagem publicada esta semana ainda piorou mais as coisas…). Vesgos, como sempre, os socialistas locais insistem em ir a reboque da comunicação social, ampliando situações ainda por resolver, manipulando dificuldades que a seu tempo terão que ser ultrapassadas, tudo porque apenas vêem calamidades apocalípticas na Madeira e vaticinavam o “fim-do-mundo”. Nestes dois anos e meio, tudo o que fosse deputado, autarca, membro do Governo do PSD, não passava de uma corja de bandidos, corruptos, incompetentes, anti-democráticos, etc. Deviam estar todos presos, melhor ainda, todos pendurados nas árvores do Jardim Municipal, ali bem perto da Rua do Surdo, de onde emana harmoniosos coros celestiais, interpretados por “anjolas” de meia tigela, com aquele arzinho de seriedade e competência compradas numa qualquer loja dos trezentos em saldos, apesar de serem experimentados saltitantes de partido em partido, tudo por causa de tachos e da preservação de mordomias. Mas quando aconteceu a demissão, quando o Presidente do Governo entendeu devolver ao eleitorado regional uma decisão — determinada por uma realidade orçamental que foi abruptamente alterada pelos socialistas de Lisboa, em total sintonia com os socialistas locais, deliberadamente para criar dificuldades ao Governo Regional e a Alberto João Jardim, custasse isso o que custasse aos madeirenses — explicando claramente os motivos da sua atitude política, saltaram logo qual bando de gaivotas de asas cortadas, berrando por tudo o que era canto, distribuindo disparates em todas as direcções, tentando inverter os factos, minimizando as eleições por alegadamente “nada resolverem” (o truque da desmobilização do eleitorado), chegando ao cúmulo de classificarem de “traição” a demissão de João Jardim — quando andaram dois anos a reclamá-la — enfim, completamente colhidos de surpresa por uma decisão que não poderia ter sido outra. E pouco importa o que o eleitorado dirá.
Luis Filipe Malheiro
Jornal da Madeira, 01 de Março 2007

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