PINACULOS

Opinião e coisas do nosso mundo...

sexta-feira, 9 de março de 2007

Artigo: Regionais (IV)

Dizia Eça de Queiroz (em “A Correspondência de Fradique Mendes”), que “nas nossas democracias a ânsia da maioria dos mortais é alcançar em sete linhas o louvor do jornal. Para se conquistarem essas sete linhas benditas, os homens praticam todas as acções — mesmo as boas. (…) Para aparecerem no jornal, há assassinos que assassinam. (…) O jornal exerce todas as funções do defunto Satanás, de quem herdou a ubiquidade; e é não só o pai da mentira, mas o pai da discórdia”.
Repetidamente afirmo — e reafirmo — que não quero dar lições de moral ou de ética jornalística seja a quem for, até porque nesta matéria sou, reconheço, um corporativista, embora não fundamentalista. Tenho a absoluta noção das virtudes e das insuficiências do jornalismo, não de hoje, mas de sempre, de uma certa apatia, de uma rotina condicionadora, de uma insuficiência formativa que deve ser colmatada regular e obrigatoriamente. Mas também sei que, regra geral quando, as coisa correm mal, os jornalistas e os meios de comunicação, enquanto alegados elos mais fracos de uma cadeia construída com cumplicidades e contradições diversas, acabam por ser os alvos preferenciais sobre os quais se despejam as irritações ou as fúrias. Mas o jornalismo tem de se precaver, dando o exemplo de isenção e de respeito pelas diferenças, pelos leitores, ouvintes e telespectadores. A manipulação, o transformar-se em caixa de ressonância de interesses partidários, de grupos ou de pessoais, quem sabe se de caprichos ou de patetices de alguns dos seus profissionais, acabam por denegrir a imagem de um sector importante em qualquer sociedade, a própria imagem de profissionais que, na generalidade, são credores do respeito das pessoas como aliás um estudo de opinião recentemente realizado o demonstrou, colocando jornalistas e políticos em pólos diametralmente opostos no que à confiança dos cidadãos diz respeito.
Vem isto a propósito de “coberturas” jornalísticas, feitas por alguns meios de comunicação social ditos de expressão nacional — daqui a uns anos, provavelmente muito poucos, a gente fala sobre o futuro dos jornais… — que enviam à Madeira os seus enviados que acabam por constituir-se autênticas caixas de ressonância ou “cornetas” de recados ou sugestões propositadamente sugeridas pela oposição, que lhes “vende” tudo, documentos, ideias e até frases de primeira página. Até parece que é chique, que é obrigatoriamente sinónimo de isenção jornalística, vir dois ou três dias à Madeira, andar em jantaradas com pessoas da oposição, regressar a Lisboa e despachar documentos, uns atrás dos outros, despejar ódios ou fazer a “entrega” das encomendas. Desde que seja atacar Alberto João Jardim, desde que seja atacar o PSD, desde que dêem uma imagem de chulice dos Madeirenses — como se não existisse uma podridão mal cheirosa em Lisboa e relações altamente doentias entre política, jornalistas e mundo empresarial, das quais ninguém fala porque são todos parte da engrenagem. O semanário “Expresso” tem sido exemplo dessa falta de isenção, que provavelmente explica as dificuldades porque passam aliás comuns aos jornais ditos de referência nacionais que andam apressadamente a reformular-se internamente, a despedir pessoas, a reduzir custos, a renovar imagem gráfica, tudo sem sucesso. Eu não contesto — era o que faltava, até porque tenho princípios dos quais não abdico — que sejam publicadas entrevistas dos líderes da oposição. Pelo contrário, grave seria não publicá-las. O que questiono são as considerações sobre, por exemplo, os apoios ao futebol profissional, a palermice da “demissão pelos 2% do orçamento” (nem sequer conseguiram explicar, por incompetência, a relação entre uma coisa e outra), as patetices pegadas em torno de um estudo de Abel Mateus, que sempre esteve online, e disponível, no site da Secretaria do Plano — como se a Madeira fosse obrigada a seguir as conclusões desse estudo, tal como o governo socialista em Lisboa “segue” os estudos e recomendações que contrariam, por exemplo as megalomanias multimilionárias da OTA e do TGV, não pelas obras em si, mas pelo timing escolhido para a sua execução num país falido e que todos os dias sacrifica os cidadãos com um apertar de cinto intolerável — o empolamento em torno de uma proposta que visava candidatar Madeira e Açores conjuntamente aos fundos comunitários, quando a superficialidade de abordagem deste tema esconde outras questões que inviabilizam, na prática, tal sugestão. Se era assim tão fácil, porque não reuniram Algarve e Alentejo, impedindo que os algarvios levassem uma “dentada” de mais de 350 milhões de euros nos apoios comunitários por terem deixado de fazer parte do lote das regiões “Objectivo 1”?
O mais ridículo é que as pessoas deveriam fazer uma inventariação, registar o que foi utilizado pelo Partido Socialista nas últimas semanas e depois comparar com o que foi publicado por aquele semanário. Não vi o Expresso publicar um estudo sério sobre o real impacto da lei de finanças regionais na Madeira. Porquê? Não tem elementos, não sabe, não quer, foi-lhes pedido para não o fazer? E nem vou referir outras situações recentemente registadas, que questionam a independência e a ética jornalística, desde o gerar de “factos” que não passam depois de “flops”, à promoção reprovável de pessoas, como contrapartida sabe-se lá de quê… O comentário final é este: eu escrevo o que escrevo para estar com a minha consciência tranquila. Até porque sei que mais de 80% do eleitorado do PSD está-se nas tintas para o que os jornais nacionais escrevem ou deixam de escrever sobre a Madeira
Luis Filipe Malheiro
Jornal da Madeira, 9 de Março 2007

Click for Funchal, Madeira Islands Forecast