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terça-feira, 13 de março de 2007

Artigo: Eleições regionais (VI)

Há trinta anos que a oposição da Madeira perde as eleições regionais. Há trinta anos que as perde, não por culpa do eleitorado madeirense e por ter sido essa a sua vontade livre e democrática, mas, imaginem, porque o anterior, Bispo D. Francisco Santana e o actual prelado, D. Teodoro de Faria, se “fizeram” com o poder regional laranja, participaram em canais de contacto excessivamente próximos, ajudaram o PSD a ganhar eleições e obrigaram os sacerdotes e as freiras a se constituírem numa espécie de orquestra ao serviço da social-democracia, como se o Povo Madeirense não pense pela sua cabeça, não escolha em liberdade e não vote com convicção democrática. Penso que só por vergonha todos esses abutres ainda não vieram sustentar que os votos do PSD da Madeira, desde 1976, foram depositados nas urnas pela calada da noite, antes da abertura das assembleias eleitorais ou que o partido da maioria tem uns tantos “agentes” em cada mesa os quais, de pistola ou facalhão do atum em riste, obrigam os cidadãos a votar todos no mesmo partido, nas tais setas viradas para o paraíso, supremo e natural objectivo de qualquer mortal que acredite que a morte não é um fim em si mesma mas antes uma etapa num percurso que continua, sem sabermos bem como nem para onde. Depois, ao longo dos anos, à medida em que as obras foram surgindo, a culpa das derrotas passou a ser das inaugurações. Alberto João Jardim era acusado de fazer festa com fogo (leia-se à custa do dinheiro transferido de Lisboa, como se de uma “esmola” se tratasse), como se o Povo não percebesse o que se passa, não percebesse que se não fossem os fundos comunitários a Madeira estaria hoje mais “entalada” do que esteve durante o regime fascista, como se o eleitorado madeirense não pensasse pela sua cabeça, não fosse um eleitorado inteligente, adulto, formado, que recusa manipulações, demagogia eleitoralista e a mentira, como se o eleitorado madeirense não fosse (seja) capaz de escolher em liberdade ou não vote com convicção e coerência. E como seria de esperar, lá vem a questão das inaugurações uma vez mais para as primeiras páginas dos jornais. Agora com um argumento novo — trata-se de um governo de gestão, demitido na sequência da dissolução da Assembleia Legislativa e da demissão de Alberto João Jardim. Um ingrediente acrescido à “salada” (leia-se, à lenga-lenga) do costume, porque a oposição continua a insinuar — como se os mais de 230 mil eleitores fossem uma cambada de analfabetos que se vendem, neste caso que votam em qualquer um que lhes coloque um “chupa-chupa” nas mãos… — que perde eleições não porque é essa a vontade do eleitorado, mas porque o PSD e o Governo regional “compram” votos. Recorrem à Comissão Nacional de Eleições, embandeiram em arco quando é noticiado que aquela entidade se vai instalar na Madeira. Como se isso nos incomodasse, como se isso atrapalhasse o PSD da Madeira. Desde que cumpram as suas competências legais e justifiquem os milhares de euros que custam todos os meses aos contribuintes, desde que não andem armados em “inspectores martelada” a rogo e a mando da oposição freneticamente histérica, tudo bem. Caso a Comissão Nacional de Eleições pise o risco — mas não creio que isso aconteça — extravasando as suas competências legais, então nesse caso os partidos que se sintam lesados podem recorrer aos tribunais ou a outras entidades competentes, para dirimir divergência sou suspeições. O que é facto é que nunca houve coragem, da parte dos sucessivos dirigentes da oposição, de assumir as suas responsabilidades pela derrota. Não me lembro que qualquer dirigente regional da oposição alguma vez se tenha demitido e abandonado o poder partidário por causa de uma derrota eleitoral. Nada disso. As derrotas eram sempre “vitórias” (a derrota de Soares no Funchal, ultrapassado até por Manuel Alegre, foi uma “vitória” para a Rua do Surdo…), uma vez porque tinham aumentado 10 votos, outra porque tinham perdido apenas 50, etc. Tudo servia para desculpar a hipocrisia de se comportarem como lapas em relação aos tachos parlamentares propiciados pelo protagonismo e funções partidárias. Mas são eles que apontam o dedo acusador ao PSD, acusando os seus dirigentes por alegadamente dependerem do poder (de facto), democraticamente legitimado, e que nada tem a ver com o “poder” que os “vencedores” da oposição repetidamente dizem ter conquistado, já que nunca assumiram derrotas. Se nunca perderam, então isso quer dizer que “ganharam” sempre. Não se percebe como, nem quando. Mas “ganharam”. Eu desafio os eleitores a esperarem pelas listas da oposição para verem quem sai, quantos são mudados, quais as novidades, qual a amplitude da renovação que exigem aos outros. O 6 de Maio, estou absolutamente convencido — venham as Comissões Nacionais de Eleições que vierem, faça a oposição as queixas que quiser, promovam eles o espalhafato das habituais teatralizações nas quais são especialistas, já que há 30 anos que a repetem — será mais um marco no nosso percurso eleitoral autonomista e um pretexto, mais um, para “mais do mesmo”, para as mesmas “vitórias” reivindicadas pelos que nunca ganham.
Luis Filipe Malheiro
Jornal da Madeira, 13 de Março 2007

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