Artigo: CRIANÇAS
Ainda a propósito da recente comemoração do Dia Internacional da Criança, gostaria de recordar algumas situações que retive da leitura de vários jornais e que me parecem importantes, na medida em que mostrar uma realidade que não se compadece com o folclore, a mediatização e muitas vezes a banalização tonta, de efemérides que valendo o que valem, não podem circunscrever apenas a um determinado dia em concreto do ano, continuando tudo, depois disso, na mesma:
- mais de 200 milhões de crianças em todo o mundo, com menos de cinco anos, não desenvolvem o seu potencial intelectual devido à fome, má alimentação e pobreza, revela um estudo publicado recentemente. Segundo o texto da revista médica britânica, “The Lancet”, a fome e a desnutrição “provocadas pela pobreza, especialmente nos primeiros anos, faz com que o cérebro de 219 milhões de crianças nos países em desenvolvimento não consiga progredir na sua totalidade, afectando as capacidades cognitivas, motoras e sócio-emocionais. A má alimentação e as consequentes doenças fazem com que a pobreza se prolongue por gerações nos países subdesenvolvidos, provocando a perda de conhecimento e da capacidade de trabalho, que acabam por acentuar o atraso sentido nestes países, segundo os investigadores”;
- a fome mata no mundo uma criança em cada cinco segundos. Todos os anos, cinco milhões de meninos e de meninas morrem devido a uma realidade que poderia ser resolvida com menos recursos do que se imagina. Segundo um relatório divulgado pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), 852 milhões de seres humanos estão sub-nutridos — 18 milhões a mais do que há meia década atrás, 9 milhões a menos do que em 1992, ano-base para a meta de redução para metade, até 2015, para dos famintos. Embora reconheça que esse, ao ritmo actual das “coisas”, não será atingido, Hartwig De Haen, da FAO, considera que o relatório “deposita esperanças no exemplo de um grupo de países em desenvolvimento, que inclui o Brasil, a China e a Índia, devido ao facto de terem reduzido a fome em 25% desde a divulgação das ”Meta do Milénio” em 1996. Mas os factos não se ficam por aqui. A FAO revela que ‘‘mais de 20 milhões de bebés nascem todos os anos com um peso abaixo do ideal”, crianças estas que correm o risco de morte na infância, enquanto que as que sobrevivem sofrem para o resto da vida de doenças físicas e cognitivas. A FAO diz que a meta de redução da fome, quase tão distante hoje como no dia em que foi aprovada, é ‘‘tanto atingível quanto custeável’’. A chamada Meta do Milénio foi aprovada por 185 países na primeira Cimeira Mundial sobre Alimentação realizada em 1996, tendo ficado acordado que os países deveriam agir para aliviar a fome de mais de 815 milhões de pessoas para que em 2015 esse número fosse reduzido a um máximo de 400 milhões de pessoas;
- todos os anos, entre 600 e 800 mil pessoas – metade das quais crianças – são forçadas a deixar suas casas e os seus países para trabalhar no exterior. As crianças são usadas como soldados, jóqueis de camelo, em trabalhos forçados ou na exploração comercial do sexo. O governo dos EUA tem trabalho conjuntamente com outros governos e através de organizações não-governamentais, comprometendo-se com a detenção dos traficantes de crianças, a reabilitação das pequenas vítimas e a sua reintegração às famílias. Precisamos de combater a corrupção nos governos, que permite a expansão do tráfico e desestabiliza as economias. Precisamos de intensificar a aplicação da lei para resgatar crianças escravizadas e deter os traficantes. Precisamos de melhorar os nossos esforços de prevenção, de forma que as crianças não fiquem tão vulneráveis a esse terrível crime”. Quem assim fala é o embaixador John R. Miller, assessor da secretária de Estado, Condoleezza Rice, e director do Escritório de Monitorização e de Combate ao Tráfico de Pessoas do Departamento de Estado;
- A BBC denunciou em tempos que centenas de crianças do Oeste da África eram trazidas ilegalmente para a Europa, num esquema moderno de escravidão. Uma investigação feita por repórteres da “Rádio 4” da BBC, a propósito do drama de crianças africanas trazidas para a Europa com a promessa de dias melhores, bem como de boas condições de educação e uma vida mais luxuosa, confirma que são os próprios pais a concordarem com essa mudança de país: ”mas o sonho termina logo após entrarem no avião, já que são colocados como escravos domésticos e nunca pisam uma sala de aula. Alguns sofrem abusos físicos ou acabam servindo de brinquedos para pedófilos. Os jornalistas viajaram até a Costa do Marfim para investigar a morte de Vitória Climbe, trazida para a Inglaterra por sua tia em 1999. Vitória acabou por morrer em consequência de 128 ferimentos encontrados em seu corpo. A tia e o seu companheiro foram condenados à prisão perpétua. Segundo essa reportagem, cerca de 10 mil crianças moram com estranhos na Grã-Bretanha, sem levarem o estilo de vida que foi prometido às suas famílias. Mary foi trazida do Benin para a Grã-Bretanha por um estranho quando tinha 10 anos. Trabalhou 17 horas por dia durante 10 anos, sendo regularmente espancada e deixada com fome, muitas vezes durante todo o dia: "Eu sinto sempre raiva quando penso porque isso aconteceu comigo. Isto me feriu. Eu apenas rezo para que Deus me dê força". Debe foi levada à Itália por um amigo branco de seu pai quando tinha 13 anos. Durante três anos serviu de escrava sexual para seu "dono" e seu amigos pedófilos e como se isso não bastasse era espancada e obrigada a comer comida de cachorro: "Eu sou uma vítima. Estou sentindo muita dor, não consigo me olhar no espelho", disse a jovem aos jornalistas.
Tudo isto dá que pensar?! Pois é, mas não creio que o drama destas crianças todas tenha mudado alguma coisa que seja.
- mais de 200 milhões de crianças em todo o mundo, com menos de cinco anos, não desenvolvem o seu potencial intelectual devido à fome, má alimentação e pobreza, revela um estudo publicado recentemente. Segundo o texto da revista médica britânica, “The Lancet”, a fome e a desnutrição “provocadas pela pobreza, especialmente nos primeiros anos, faz com que o cérebro de 219 milhões de crianças nos países em desenvolvimento não consiga progredir na sua totalidade, afectando as capacidades cognitivas, motoras e sócio-emocionais. A má alimentação e as consequentes doenças fazem com que a pobreza se prolongue por gerações nos países subdesenvolvidos, provocando a perda de conhecimento e da capacidade de trabalho, que acabam por acentuar o atraso sentido nestes países, segundo os investigadores”;
- a fome mata no mundo uma criança em cada cinco segundos. Todos os anos, cinco milhões de meninos e de meninas morrem devido a uma realidade que poderia ser resolvida com menos recursos do que se imagina. Segundo um relatório divulgado pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), 852 milhões de seres humanos estão sub-nutridos — 18 milhões a mais do que há meia década atrás, 9 milhões a menos do que em 1992, ano-base para a meta de redução para metade, até 2015, para dos famintos. Embora reconheça que esse, ao ritmo actual das “coisas”, não será atingido, Hartwig De Haen, da FAO, considera que o relatório “deposita esperanças no exemplo de um grupo de países em desenvolvimento, que inclui o Brasil, a China e a Índia, devido ao facto de terem reduzido a fome em 25% desde a divulgação das ”Meta do Milénio” em 1996. Mas os factos não se ficam por aqui. A FAO revela que ‘‘mais de 20 milhões de bebés nascem todos os anos com um peso abaixo do ideal”, crianças estas que correm o risco de morte na infância, enquanto que as que sobrevivem sofrem para o resto da vida de doenças físicas e cognitivas. A FAO diz que a meta de redução da fome, quase tão distante hoje como no dia em que foi aprovada, é ‘‘tanto atingível quanto custeável’’. A chamada Meta do Milénio foi aprovada por 185 países na primeira Cimeira Mundial sobre Alimentação realizada em 1996, tendo ficado acordado que os países deveriam agir para aliviar a fome de mais de 815 milhões de pessoas para que em 2015 esse número fosse reduzido a um máximo de 400 milhões de pessoas;
- todos os anos, entre 600 e 800 mil pessoas – metade das quais crianças – são forçadas a deixar suas casas e os seus países para trabalhar no exterior. As crianças são usadas como soldados, jóqueis de camelo, em trabalhos forçados ou na exploração comercial do sexo. O governo dos EUA tem trabalho conjuntamente com outros governos e através de organizações não-governamentais, comprometendo-se com a detenção dos traficantes de crianças, a reabilitação das pequenas vítimas e a sua reintegração às famílias. Precisamos de combater a corrupção nos governos, que permite a expansão do tráfico e desestabiliza as economias. Precisamos de intensificar a aplicação da lei para resgatar crianças escravizadas e deter os traficantes. Precisamos de melhorar os nossos esforços de prevenção, de forma que as crianças não fiquem tão vulneráveis a esse terrível crime”. Quem assim fala é o embaixador John R. Miller, assessor da secretária de Estado, Condoleezza Rice, e director do Escritório de Monitorização e de Combate ao Tráfico de Pessoas do Departamento de Estado;
- A BBC denunciou em tempos que centenas de crianças do Oeste da África eram trazidas ilegalmente para a Europa, num esquema moderno de escravidão. Uma investigação feita por repórteres da “Rádio 4” da BBC, a propósito do drama de crianças africanas trazidas para a Europa com a promessa de dias melhores, bem como de boas condições de educação e uma vida mais luxuosa, confirma que são os próprios pais a concordarem com essa mudança de país: ”mas o sonho termina logo após entrarem no avião, já que são colocados como escravos domésticos e nunca pisam uma sala de aula. Alguns sofrem abusos físicos ou acabam servindo de brinquedos para pedófilos. Os jornalistas viajaram até a Costa do Marfim para investigar a morte de Vitória Climbe, trazida para a Inglaterra por sua tia em 1999. Vitória acabou por morrer em consequência de 128 ferimentos encontrados em seu corpo. A tia e o seu companheiro foram condenados à prisão perpétua. Segundo essa reportagem, cerca de 10 mil crianças moram com estranhos na Grã-Bretanha, sem levarem o estilo de vida que foi prometido às suas famílias. Mary foi trazida do Benin para a Grã-Bretanha por um estranho quando tinha 10 anos. Trabalhou 17 horas por dia durante 10 anos, sendo regularmente espancada e deixada com fome, muitas vezes durante todo o dia: "Eu sinto sempre raiva quando penso porque isso aconteceu comigo. Isto me feriu. Eu apenas rezo para que Deus me dê força". Debe foi levada à Itália por um amigo branco de seu pai quando tinha 13 anos. Durante três anos serviu de escrava sexual para seu "dono" e seu amigos pedófilos e como se isso não bastasse era espancada e obrigada a comer comida de cachorro: "Eu sou uma vítima. Estou sentindo muita dor, não consigo me olhar no espelho", disse a jovem aos jornalistas.
Tudo isto dá que pensar?! Pois é, mas não creio que o drama destas crianças todas tenha mudado alguma coisa que seja.
Luís Filipe Malheiro
Jornal da Madeira, 07 de Junho 2007
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