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quarta-feira, 13 de junho de 2007

Artigo: DÚVIDAS

O Partido Socialista continua mais ou menos envolvido na corrida para sucessão de Jacinto serrão, parecendo-me que ainda sem saber muito bem o que vai fazer no Congresso marcado para 28 de Julho, exactamente no mesmo dia em que o PSD realiza no Chão da Lagoa mais uma edição da sua tradicional festa anual.
É óbvio que depois da derrota eleitoral de Maio passado e da decisão de Jacinto Serrão – quanto a mim acertada e a única que ele poderia ter tomado, no actual contexto e conjuntura política – de não se recandidatar – os socialistas viram-se a braços com uma situação nova dado que anteriormente, que me lembre, nenhum outro líder regional dos socialistas locais se afastou do cargo devido a um desaire eleitoral. Embora refugiando-se na figura da ”não recandidatura”, Serrão não anuncia a demissão, é certo, mas teoricamente acaba por ser exactamente o mesmo, na medida em que já antes das eleições regionais, tinha sido convocado para Julho o Congresso regional dos socialistas, o que veio facilitar a decisão tomada
Os militantes socialistas, se é que eles dão alguma importância a esse facto, certamente que já se aperceberam que a disputa pela liderança do partido envolve exactamente as pessoas que tendo sido candidatas nas regionais de Maio passado, também foram derrotadas, pelo que em vez de andarem a sacudir a água do capote, como que empurrando as responsabilidades em exclusivo para Jacinto Serrão, que as teve de facto, deveriam ter sido solidárias com ele e seguir-lhe o exemplo. Eu não sei, por exemplo, como é que o eleitorado do PS, ou melhor dizendo, os seus militantes – porque há uma diferença entre o eleitorado socialista e a estrutura partidária – entendem, e aceitam, que o líder parlamentar socialista seja um dos actuais Vice-Presidentes do PS, e um dos colaboradores mais directos de Serrão, que nem sequer deputado foi eleito – exerce essas funções em substituição correndo o risco, mais do que inevitável, de em 2009 deixar de fazer parte do parlamento? Não sei como é que eles entenderão que o vice-líder parlamentar, Jaime Leandro (que sempre me fez uma confusão porque não foi melhor colocado na lista de candidatos, pelo simples facto do cargo que exercia o determinar), ter sido designado para essas funções quando nem sequer foi eleito deputado, já que exerce essas funções em substituição. Eu não sei, por exemplo, como é que os militantes socialistas entendem, que no actual quadro parlamentar regional, seja Bernardo Martins o candidato à Vice-Presidência da Assembleia Legislativa, quando é um facto inegável que os socialistas sofreram este ano a maior malha eleitoral em Machico.
Já agora, como é possível que Vítor Freitas afirme numa entrevista ao Tribuna da Madeira que “quem negociou a Lei das Finanças Regionais não foram os partidos, mas sim o Governo da República e o Governo Regional, pelo que qualquer responsabilidade em relação à Lei das Finanças Regionais tem de ser assacada a quem esteve na mesa das negociações e não ao PS/M”. Qual foi a negociação que houve, e com quem, em que termos, com base em que propostas? Qual a correspondência entre a lei aprovada na Assembleia da República com os votos socialistas e o que foi a posição do Governo Regional da Madeira? Vítor Freitas ainda não percebeu o significado a derrota eleitoral do PS e as causas das opções do eleitorado? Creio que estamos operante uma questão de querer atirar responsabilidades políticas para terceiros, quando é mais do que óbvio que o eleitorado, e bem, não fez essa leitura. Pelo contrário... “Também sinto que fui derrotado”. Afinal o novo líder parlamentar dos socialistas ainda não tem a certeza que foi derrotado. Sentir? Só
Não sei também como é que as bases socialistas encararam a alegada tentativa de uma “golpada” de secretaria, visando impor aos candidatos já anunciados (e outros ainda em reflexão), uma pretensa candidatura de Maximiano Martins, quando é óbvio que se há responsáveis directos pelo desaire eleitoral dos socialistas, Martins é um deles. Tudo isto cheira-me a esturro, na medida em que me parece evidente que há no PS uma tentativa clara de ganhar terreno – e por isso não querem a eleição de um líder que futuramente possa ofuscar essa estratégia temporal – para que em 2009, porventura em 2010, depois do tal Congresso Regional dos social-democratas que indicará o substituto de Alberto João Jardim como candidato nas eleições regionais de 2011. Bernardo Trindade continua a ser a reserva dos socialistas locais, a esperança para que um novo ciclo no PS possa ter lugar, mas tudo isso depende – o que é compreensível – da estratégia e das opções que venham a ser tomadas pelos social-democratas. Por outro lado, repare-se nisso, se Trindade for o candidato, é mais do que evidente que ele não poderá continuar no governo da República, ainda por cima quando 2009 é ano de eleições legislativas nacionais, na medida em que o centro do debate político regional se faz no parlamento regional, nos meios de comunicação social locais, ou seja, na Madeira e não fora dela. Não se prevê também que Jacinto Serrão seja candidato à Assembleia da República em, 2009, pelo que é mais do que lógico o seu regresso à Assembleia Legislativa, já em 2009, para cumprir o mandato até 2011. Mas Trindade e Serrão integrar-se-ão, por exemplo, num grupo parlamentar do qual poderá fazer parte um potencial futuro líder socialista – é um dos candidatos assumidos – João Carlos Gouveia, ele próprio que nem sequer foi eleito deputado, já que apenas exerce essas funções em substituição, relegando-o para uma posição secundária? Quer isto dizer que depois de 2007 os socialistas marcarão um Congresso regional em 2009 ou princípios de 2010 para eleger o verdadeiro candidato socialista à presidência do Governo regional nas eleições de 2011? E que garantias terá o PS que o PSD não voltará a ter a maioria absoluta regional em 2011? E que o PS vai ganhar ou manter a maioria absoluta parlamentar em 2009?
Luís Filipe Malheiro

Jornal da Madeira, 11 de Junho 2007

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