PINACULOS

Opinião e coisas do nosso mundo...

sábado, 31 de maio de 2008

Espaço: NASA Mars landing

Espaço: Mars Reconnaisance and ESA photos

Freguesias de Portugal

Espaço: Phoenix aterrou em Marte

Portugal e Ilhas

Como Morreram os Apóstolos?

Espaço: Phoenix lithograph

Geografia - Tectonica das Placas

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Opinião: DESMOTIVADOR

Li esta semana num jornal nacional de referência, um texto da jornalista Paula Cordeiro que não deixa dúvidas a ninguém: “O elevado nível de endividamento dos portugueses pode limitar a sua capacidade de ajustamento a crises, numa altura em que as taxas de juro não param de subir. O endividamento dos particulares já atingiu os 129% do seu rendimento disponível anual, ou seja, a dívida total das famílias é superior em 29% ao seu rendimento de um ano, sem impostos. Em 2006, este valor era de 123%, o que significa que os portugueses aumentaram as suas dívidas à banca em 11,2 mil milhões de euros, no último ano. A dívida total dos particulares à banca era de 147,9 mil milhões de euros no final do ano passado, ou seja, 91% do PIB (…) O elevado nível de endividamento das famílias, refere ainda a instituição (Banco de Portugal) liderada por Vítor Constâncio, "poderá estar a constituir uma restrição activa para a evolução do consumo privado e do investimento residencial". Uma situação que tenderá a agravar-se, num quadro de aumento da restritividade na concessão de crédito, como consequência das dificuldades de financiamento enfrentadas pelos bancos”. Por isso, não será de estranhar, tendo por base a mesma fonte, que em 2007 se tenha registado “uma redução da taxa de poupança dos portugueses. De acordo com o Relatório de Estabilidade, esta taxa, quando medida em percentagem do rendimento disponível dos particulares, fixou-se nos 7,9%, contra 8,4 % no ano anterior. No que respeita à sua relação com o PIB, a taxa de poupança foi de 5,5%, quando em 2006 tinha sido de 6%. Mais um dado que indicia um maior recurso ao financiamento nos mercados internacionais, por parte dos bancos, agravando a posição do País face ao exterior. Do lado das empresas, a situação também não melhorou. A dívida total destas atingiu os 114% do produto interno bruto (PIB) em 2007, enquanto a sua poupança corrente, em percentagem do PIB, baixou para 4,3%, contra 5% em 2006. Referindo-se ao sector bancário, o Banco de Portugal defende um reforço dos fundos próprios dos bancos portugueses, para fazer face às incertezas que persistem nos mercados financeiros. "As perturbações nos mercados financeiros deverão continuar a afectar negativamente a rendibilidade dos bancos".
Qualquer pessoa minimamente atenta à realidade da economia nacional e internacional, que tem acompanhado as contradições do governo, os alertas do Banco de Portugal, as contradições de indicadores entre a União Europeia e outras instituições internacionais, que se confronta com o aumento frequente das taxas de juro para valores próximos dos existentes em 1999 ou com o aumento do preços dos combustíveis, naturalmente que percebe que estamos a falar de uma realidade que constitui uma perigosa ameaça para milhares de cidadãos e para famílias e empresas que desconhecem as dificuldades futuras, porque ninguém sabe, salvo os embustes que a propaganda nos quer vender, qual a tendência da evolução desta situação nos próximos anos.
É neste contexto que deve ser enquadrado o alerta de Mário Soares – que rapidamente, é curioso, foi “banido” de qualquer destaque informativo – no seguimento de outros alertas da Igreja Católica, de instituições de solidariedade social, de especialistas universitários, etc: “Não posso dizer que tenha ficado surpreendido com o Relatório da União Europeia (Eurostat) e o trabalho, coordenado pelo Prof. Alfredo Bruto da Costa, do Centro de Estudos para a Intervenção Social (CESIS), intitulado "Um olhar para a pobreza em Portugal", divulgados há dias, que coincidem em alertar para o facto de a "pobreza e as desigualdades sociais se estarem a agravar em Portugal". Surpreendido não fiquei. Mas chocado e entristecido, isso sim, por Portugal aparecer na cauda dos 25 países europeus - a Roménia e a Bulgária ainda não fazem parte da lista - nos índices dos diferentes países, quanto à pobreza e às desigualdades sociais e, sobretudo, quanto à insuficiência das políticas em curso para as combater (…) A revolta quanto às escandalosas desigualdades sociais, que igualmente crescem, fazendo de Portugal, trinta e quatro anos depois da generosa Revolução dos Cravos, o país da União Europeia socialmente mais desigual e injusto, ombreando, à sua escala, naturalmente, com a América de Bush... Ora, a pobreza e a riqueza (ostensiva e muitas vezes inexplicável) são o verso e o reverso da mesma moeda e o espelho de uma sociedade a caminho de graves convulsões. Atenção, portanto. (…) No entanto, no nosso canto europeu, deveremos fazer tudo o que pudermos, numa estratégia concertada e eficaz, para combater a pobreza - há muito a fazer, se houver vontade política para tanto - e também para reduzir drasticamente as desigualdades sociais. Até porque, como têm estado a demonstrar os países nórdicos - a Suécia, a Dinamarca, a Finlândia - as políticas sociais sérias estimulam o crescimento, contribuem para aumentar a produção e favorecem novos investimentos. Este é o objectivo geo-estratégico para o qual deveremos caminhar, se quisermos evitar convulsões e conflitos (…)Em Portugal, permito-me sugerir ao PS - e aos seus responsáveis - que têm de fazer uma reflexão profunda sobre as questões que hoje nos afligem mais: a pobreza; as desigualdades sociais; o descontentamento das classes médias; e as questões prioritárias, com elas relacionadas, como: a saúde, a educação, o desemprego, a previdência social, o trabalho. Essas são questões verdadeiramente prioritárias, sobre as quais importa actuar com políticas eficazes, urgentes e bem compreensíveis para as populações. Ainda durante este ano crítico de 2008 e no seguinte, se não quiserem pôr em causa tudo o que fizeram, e bem, indiscutivelmente, para reduzir o deficit das contas públicas e tentar modernizar a sociedade”.
Aparentemente direccionado para o PS – daí porventura a relutância com que alguns aceitaram este texto de Soares - é um facto que o artigo do fundador dos socialistas portugueses confirma uma tendência indisfarçável em Portugal, a de que a pobreza está a crescer, em grande parte também por causa de medidas económicas que têm vindo a agravar progressivamente o poder de compra das pessoas, abalando o orçamento de famílias e de empresas, gerando desemprego, etc, numa escalada sem precedentes – e conjugando factores que colocam, reconheço, dificuldades inesperadas e extraordinariamente difíceis ao governo socialista de Sócrates – que poderá agravar ainda mais a realidade social portuguesa e europeia em geral impedindo quer a propaganda, quer o agendamento de medidas populistas que eventualmente estariam pensadas (e previstas) apenas lá para 2009, em vésperas do acto eleitoral. Aumentar o abono de família (sem dúvida positivo porque vai beneficiar os mais necessitados) num país caracterizado por um alarmante défice demográfico?

Luís Filipe Malheiro (in Jornal da Madeiora, 30 de Maio de 2008)

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Opinião: LIBERALIZAÇÃO

Vamos ver se nos entendemos, até para que não fiquemos confrontados com uma sempre perigosa especulação - que começa a aparecer entre os madeirenses face à ausência de explicações plausíveis – ou com a dúvida sobre o que estará subjacente a tudo isto. E não venham com a treta de que apenas uma minoria sabe do que falamos porque felizmente a maioria dos madeirenses já percebeu o que se passa, que foram cometidas falhas, que parecem existir desajustamentos entre as propostas feitas pelo grupo de trabalho constituído para o efeito, e constantes do seu relatório, e a legislação depois aprovada. Mais. Ninguém confunde a liberalização enquanto tal, com a defesa dos interesses dos residentes e dos estudantes. Portanto não usem abusivamente esta argumentação, como se não passássemos de uma cambada de analfabetos. Eu acho intolerável que, perante a situação criada, se tente defender algo que comprovadamente não funciona da melhor forma, pelo menos daquela que todos esperávamos.
Não admito que quem não tenha encargos com as suas deslocações ou com os filhos que estudam fora da Região, desvalorizem aspectos essenciais e que dizem respeito a milhares de pessoas e de famílias regionais. Ninguém confunde, eu não confundo a liberalização em si mesma, com este modelo de liberalização, caracterizado pela ausência de concorrência entre empresas na linha Madeira-Continente e pela institucionalização de um monopólio consubstanciado pela TAP e pela SATA, que opera em “codeshare” com a companhia de bandeira, dela dependendo em muitos aspectos, incluindo operacionais e de logística. Obviamente que as pessoas podem perguntar se não teria sido possível um período de transição que permitissem ao mercado, enquanto um todo global constituído por várias partes (agentes de viagens, companhias aéreas, utilizadores, etc), adaptar-se a novas regras. Mais. As pessoas podem interrogar-se porque motivo avançou a Madeira, tão aceleradamente para uma liberalização que supostamente seria a solução milagrosa para os problemas com os transportes aéreos, enquanto que os Açores ficaram de fora, assegurando a obrigatoriedade de cumprimento por parte da TAP do serviço público que no caso da Madeira deixou de existir.
A liberalização, qualquer liberalização, é sempre benéfica, porque o mercado funciona aberto e de acordo com regras que ele próprio gera (mas o caso dos combustíveis também não resulta de uma liberalização? E quem são os principais prejudicados com a especulação vigente, com aumentos dos preços quase diários?). Mas é preciso ter presente que a liberalização tem que implicar a defesa dos interesses dos residentes. Não podemos ver a liberalização apenas na perspectiva turística e dos interesses dos hoteleiros locais, até porque a realidade conjuntural internacional (preços dos combustíveis) pode ter efeitos nefastos no sector aéreo - encarecendo o custos das viagens - e, por tabela, no sector turístico e hoteleiro nos destinos tradicionais como a Madeira. Recordo que a TAP reconheceu que a linha da Madeira foi a mais importante em 2007, gerando um tráfego de mais de 500 mil passageiros. Recordo também que a TAP aumentou as taxas de combustível em três euros nos voos para a Europa (médio curso) e em dez euros nos voos intercontinentais (longo curso). Por isso, nos voos efectuados dentro da Europa (médio curso), a taxa de combustível passou a ser agora de 32 euros, enquanto que nos voos de longo curso essa taxa de combustível passou para 110 euros (a taxa de combustível foi criada em Agosto de 2004, com um governo do PSD em Lisboa…). A minha dúvida é saber até que ponto as “low cost” vão continuar a sobreviver com as tarifas que presentemente praticam.
Quando se fala na liberalização do mercado, no que à Madeira diz respeito, há componentes essenciais que devem ser tidas em consideração:

- a liberalização em si mesma, que ninguém contesta;
- o papel das chamadas “low cost”, sobre o qual existem dúvidas, nomeadamente se elas estarão realmente interessadas numa linha regular onde a companhia de bandeira, com mais de 500 mil passageiros por ano, tudo fará para os manter;
- que contrapartidas exigirão as “low cost” disponíveis para operarem numa linha como a da Madeira, de pequena dimensão, em termos de mercado, o que porventura explica o desinteresse da Ryanair que respondeu negativamente a todos os convites que lhe foram feitos até ao momento envolvendo a nossa região;
- o serviço público antes atribuído à companhia de bandeira (TAP) cujas obrigações deixaram de lhe ser exigidas a partir da liberalização;
- as alterações do tarifário para residentes e estudantes num contexto de efectiva garantia de combater a insularidade e garantir a coesão e continuidade territorial;
- a distinção entre a procura regional – os madeirenses que viajam para o Continente – e os pacotes turísticos/hoteleiros, vendidos no Continente, negociados pela própria TAP (através da sua agência) ou por agentes de viagens, que aproveitando os novos tarifários podem ter influência na captação de mais passageiros para a Região, embora o agravamento das condições económicas das famílias portuguesas e do seu endividamento, possa afectar a procura e inverter essa tendência.
Existem outras componentes a considerar numa discussão séria, pragmática e verdadeira, em torno deste problema:
- os interesses da TAP que por causa dos combustíveis já fala em despedimentos de funcionários
- os interesses das low cost e que encargos representarão para o orçamento regional
- os interesses dos hoteleiros, para os quais, numa lógica empresarial, o essencial são os níveis de ocupação e não a discussão sobre tarifas de residentes ou de estudantes universitários
- os interesses dos agentes de viagens, confrontados com responsabilidades acrescidas na procura de tarifas mais adequadas aos seus clientes e ameaçadas por medidas (redução das taxas) que a TAP está a introduzir como forma de incentivar o recurso a reservas directas através da Internet, agora que deixaram de ser emitidos os bilhetes em papel.
Uma nota final: não estou contra a liberalização, estou contra o modelo de liberalização num mercado mono-empresarial, onde não existe concorrência entre empresas, deixando as pessoas dependentes dos critérios da TAP/SATA, uma liberalização que, por causa disso, penaliza os interesses dos residentes e dos estudantes universitários, agravando as tarifas antes praticadas, dificultando a liberdade dos insulares poderem viajar – porque não têm outras alternativas - dado que não são todas as famílias que podem despender 300, 400 ou 500 euros por pessoa, cada vez que vão a Lisboa ou ao Porto. Por isso, e insisto, o modelo a funcionar como está a funcionar, é inadequado, não defende os residentes, enche os bolsos à empresa que protagoniza o monopólio, faz o Estrado poupar (devido redução das tarifas de residentes e estudantes) cerca de 40 a 50 milhões de euros anuais.

Luís Filipe Malheiro (in Jornal da Madeira, 29 de Maio de 2008)

quarta-feira, 28 de maio de 2008

O cão, o gato e o rato...

A força dos motores do 747/400...

O que faz um urubu numa turbina de avião...

Defender a natureza

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Opinião: DUAS NOTAS

I. Fiquei ontem a saber que a segurança social vai apertar o cerco aos gestores das empresas com dívidas e que em 2008, o Governo quer reaver 35 milhões de euros podendo para tal, se necessário for, penhorar os bens patrimoniais dos administradores. De facto, vai sendo tempo deste país meter as “coisas nos eixos”. Por um lado, combatendo de uma forma mais enérgica e exemplar, no plano político, a ideia, que aos poucos se vai consolidando, de que a manipulação a par do descarado exercício do “lobbing” e da promiscuidade entre política e negócios – e que continua a imperar num país que ainda julga que as influências e não as oportunidades, é que fazem os negócios – é que ditam leis. Por outro lado, precisa também de encontrar os argumentos necessários que legitime o Estado a para tratar todas as pessoas num mesmo plano de igualdade. Eu também acho que não são as listas de devedores publicadas na Internet, que fazem com que o Estado, salvo situações pontuais sem impacto no global da realidade, recuperará dívidas de empresas e cidadãos singulares, á que tudo depende da realidade conjuntural da economia.
Reconheço que há pessoas que nos ofendem e que são uma ofensa aos cidadãos cumpridores, pouco me ralando o facto de haver alguns cidadãos que se ofendem todos quando se defende o reforço de medidas coercivas destinadas a acabar com a fuga aos impostos e com outras falcatruas. Tal, como há uns “queques” que julgam “fino”, e ainda apor cima se vangloriam desse desprezível feito, deverem dinheiro mas andarem a esbanjar ou a mostrar sinais exteriores de riqueza que todos sabemos serem falsos, porque só possíveis graças à cumplicidade tolerante de uma banca que prefere esperar um pouco mais para ver o que consegue recuperar, a ter que agir judicialmente. E isto não é inveja – outra capa sob a qual muitos se refugiam. Trata-se de acabar com patifarias cometidas por patifes sem escrúpulos que se aproveitam do sistema, que vivem à custa do sistema, que o ludibriam e que contam com uma impunidade que nalguns casos não se percebe como é possível.
Não é admissível que indivíduos que roubam o sistema e que protagonizam injustiças sociais graves tais como as de não pagarem os salários aos seus trabalhadores, se pavoneiem por aí como se os problemas não fossem deles, mas do Estado. Um empresário – e não estou a generalizar, como é evidente - seja de que sector for, que deve dinheiro ao fisco ou à segurança social mas que anda por ai de pança cheia e a arrotar, não pode deixar de ser penalizado, até porque todos os trabalhadores por conta de outrem, pagam normalmente as suas obrigações, não tendo, mesmo que quisessem, possibilidades de fugir aos compromissos a que estão obrigados legalmente. Por isso, não se compreende que os que mais ganhem abusem dessa situação e ofendam todos os demais cidadãos que cumprem as suas obrigações. Assim sendo, acho que tanto a segurança social como o fisco devem agir ainda com mais determinação, devem perder menos tempo a discutir o ”sexo dos anjos” e acelerar rapidamente a produção legislativa necessária para que a normalização seja uma realidade e que alguma impunidade que por aí passeia, irresponsavelmente persista.
Não me parece admissível que um empresário, seja ele quem for, não pague os salários aos seus trabalhadores mas depois passe o dia no casino a espatifar milhares ou se pavoneie pela cidade em luxuosos carros que nada têm a ver com o seu estatuto de devedor crónico. Com isto quero essencialmente manifestar a minha incondicional concordância com esta anunciada medida, esperando que ela passe das intenções aos actos. Há que ter presente, entre outros atrofiamentos, e tal como recentemente foi noticiado, que Portugal é o país da União Europeia onde há mais pobres e onde as desigualdades sociais são mais gritantes, conclusões estas que constam de um estudo da Comissão Europeia. Diz o relatório que 9% dos portugueses, isto é, cerca de 960 mil pessoas, sobrevivem com menos de 10 euros por dia (na Europa, a média situa-se nos 5%). Ao comparar os rendimentos dos mais ricos com o nível de vida dos mais pobres, o estudo reconhece que Portugal é o campeão das desigualdades, ultrapassando até os Estados Unidos, além de ser aquele onde o fosso de rendimentos mais se tem agravado. Ou seja, temos, finalmente, que ter a consciência que vivemos num país onde um em cada dez portugueses vive com menos de dez euros por dia.

II. O segundo aspecto que pretendo abordar, tem a ver com um tema que ontem abordei neste espaço, sobre a diferença dos preços dos combustíveis, na Madeira e nos Açores, dado que consultando o site institucional do governo regional dos Açores, se verificava que os preços tinham realmente oscilações significativas., Sucede que esses valores não correspondem à realidade, estão errados, confirmação que consegui ontem junto da direcção regional de comércio e indústria que me deu um outro cenário, o constante do quadro abaixo, cuja publicação, em nome da verdade entendo dever aqui publicar:
Luís Filipe Malheiro (in Jornal da Madeira, 28 de Maio de 2008)

Aquecimento global

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Best 2007 Animals Photos

terça-feira, 27 de maio de 2008

O espectáculo do surf

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FÚRIA DESTRUIDORA

Fotos excelentes

Opinião: COMBUSTÍVEIS: O CAOS À PORTA?

As economias ocidentais continuam a olhar para a escalada dos preços dos combustíveis e nada conseguem fazer. Enquanto isso crescem os sinais de instabilidade social – Portugal não é excepção – não sendo exagero admitir que, a continuar esta descontrolada subida de preços, os problemas do primeiro-ministro vão-se agravar e 2009 será um ano de pesadelo para o PS em vez de ser, como previam e tinham preparado, um na o para medidas que permitiriam conciliar a suavização do esforço pedido aos portugueses com a urgente recuperação (?) da imagem do PS junto do eleitorado.
Não creio que este assunto deva ser transformado numa “bandeirola” para jogatanas políticas ou partidárias de baixo nível. Dizem alguns, e é verdade, que o preço dos combustíveis nos Açores é mais barato que na Madeira. Mas não dizem, porque não existem “milagres”, à custa de quê é isso possível, nem quais os encargos assumidos pelo orçamento regional para que essa diferença se mantenha, mesmo que se saiba que o orçamento açoriano está substancialmente mais dotado de recursos financeiros comparativamente ao orçamento madeirense, graças aos novos valores constantes da lei de finanças regionais em vigor.
Parece-me sim que alguém, no Governo regional da Madeira, terá que explicar os motivos desta disparidade de preços, para que os Madeirenses percebam do que estamos a falar e dos motivos desta situação. Não é com o silêncio que se esclarecem as pessoas. Mas também nunca ouvi, até hoje - e daí a acusação de oportunismo demagógico - o PS local, tal como reclama que o governo regional da Madeira interviesse para baixar o preço dos combustíveis, exigir que o governo socialista em Lisboa fizesse o mesmo. Não sei, tecnicamente, como seria possível conciliar uma redução do imposto (ou dos preços de venda?) porque não sei como é que o governo regional madeirense poderia compensar a perda de receitas que daí resultariam. De certeza absoluta que é esse o mesmo problema do governo de Sócrates que ainda ontem foi claro, ao recusar qualquer intervenção governamental nos preços. Mas uma coisa é a discussão em torno de decisões políticas com repercussões económicas e orçamentais, outra coisa é a realidade existente, de facto, e que precisa de ser clarificada para que nenhuma dúvida se instale na Madeira. De facto, consultando ontem o site institucional do governo regional dos Açores, constatei que os preços dos combustíveis desde 17 de Maio, apresentam este cenário:

Portanto - e porque tenho pugnado sempre, ao longo da minha vida, pelo primado da verdade - é evidente que estamos perante uma situação concreta que politicamente tem que ser explicada, o que não invalida, pelo contrário, a obrigação de sabermos, na Madeira e no Continente, como é que os Açores conseguem esta “proeza” de praticar preços com estas diferenças – ainda por cima porque estamos a falar de uma região insular, penalizada pelas repercussões dessa insularidade no custo dos transportes marítimos. As pessoas obviamente que percebem que não existem milagres e que há uma intervenção directa do orçamento regional, que todos parecem ter vergonha de confirmar, intervenção que é preciso ser quantificada e que nem mesmo o facto de estarmos numa ano eleitoral, pode constituir motivo para que tal esclarecimento não seja prestado, e urgentemente.
Isto porque ontem ficamos a saber de duas notícias importantes para percebermos que a demagogia não pode ser a via de opção sistemática do PS local que, repito, ainda não ouvi reclamar que aplique no Continente as medidas que de uma forma célere exigiram para a Madeira. Aliás, e a propósito, sabendo-se que nos Açores as pensões e reformas têm nesta região um valor superior ao praticado na Madeira e mesmo no Continente, seria igualmente interessante saber o que significa, para efeitos de orçamento regional, essa intervenção do orçamento regional. Falo do facto de
José Sócrates ter garantido hoje que o Governo não cederá "à tentação de facilitismo" que levou ao congelamento dos preço dos combustíveis no passado, porque "esse não é o caminho correcto". E mais: "Este não é o momento para ceder nem à demagogia nem à facilidade. Um governo responsável não o pode fazer, deve sim ajudar quem mais precisa e foi o que fizemos", remetendo medidas anunciadas - aumento em 25% do abono de família nos primeiro e segundo escalões e o congelamento dos passes sociais. Sócrates recordou: "O efeito do congelamento dos preços dos combustíveis foi muito negativo quer nas contas públicas quer nos sinais erróneos que se deram aos agentes económicos". Por outro lado, e mesmo correndo alguns riscos, dado que o tema é actual e a base eleitoral do PSD a poderia penalizar e não aceitar a sua visão, registei o facto da candidata à liderança do PSD, Manuela Ferreira Leite, se ter colocado do lado do Governo na questão dos combustíveis, reconhecendo que não há condições para baixar o ISP (Imposto sobre os Produtos Petrolíferos), medida defendida pela oposição e por Pedro Passos Coelho. Embora reconhecendo que é necessário actuar sobre a matéria, Ferreira Leite garantiu que não se trata de um problema conjuntural, sendo imprescindível pensar em formas de racionalizar a utilização de energias, ao invés de esperar que um novo contexto governativo permita baixar os preços: «A redução do imposto sobre as petrolíferas é algo que parece muito fácil, mas para que o Estado o consiga tem duas hipóteses - ou vai criar outro imposto ou vai reduzir uma despesa, que não se está a ver qual é».
Quando se fala na necessidade de se combater a demagogia e o facilitismo de medidas avulso que os autores sabem que não são plausíveis, quando se opta pela falta de seriedade e de avança para um rol, de propostas destinadas mais à calça ao voto do que a serem executáveis, acho que estes dois exemplos, diferentes no plano partidário, acabam por ser a resposta adequada ao pedantismo e (auto) convencimento de quem pensa que o povo se deixa enganar e que julga que tudo acontece por milagre, sem “mãos invisíveis”. Os preços dos combustíveis nos Açores são inferiores aos praticados na Madeira e no Continente, porque é o orçamento regional a suportá-lo. Eu até percebo: estando a Madeira com menos verbas do Estado e com menos recursos da União Europeia, quanto mais responsabilidades forem atiradas para o Governo Regional, melhor (para quem propõe) porque pretensamente fica com o benefício da autoria das propostas e pior para quem não toma as medidas que seriam as mais populares. Mas a política não é só isso, pelo contrário, não tem que ser isso. Isto não invalida, pelo contrário, que não reconheça que existem situações suportadas pelo orçamento regional que, mais tarde ou mais cedo, terão que ser repensadas muito seriamente. E que o silêncio nunca foi um instrumento de esclarecimento dos cidadãos.

Luís Filipe Malheiro (in Jornal da Madeira, 27 de Maio de 2008)

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Fotos incríveis

Opinião: SEMANA DECISIVA

Esta é a semana decisiva para os candidatos à liderança do PSD que a 31 de Maio se submeterão ao veredicto das bases. Faltam poucos dias para que os candidatos sejam capazes de convencer as bases de que são eles a melhor solução para um partido que eu não acredito possa estar em condições de enfrentar em 20099 um novo desaire eleitoral. Se isso acontecer, julgo que o PSD passa a ter pela frente o desafio de lutar pela sua sobrevivência, porque aos poucos perderá uma base eleitoral de apoio que deixa de acreditar numa força política entregue a gente medíocre, um partido ideologicamente desfigurado ou completamente desfeito em pequenas “quitarolas” que alimentam vaidades pessoais que não há maneira de acabarem.
Mas, com algum humor, apetece-me dizer que, todos os dias, deveríamos ter “directas” em todos os partidos, porque acho que todos os dias, os candidatos deveriam visitar a Madeira. São tantas as promessas, tantas as declarações de intenções, tantas as considerações, tantas as “juras” disto e de aquilo, que já ninguém acredita no que eles dizem, em grande medida porque confrontamos a realidade, os factos, com a demagogia e os trocadilhos de circunstancialismos, que valem o que valem e que devem ser enquadrados no âmbito de pequenas guerras de alecrim e manjedoura que ciclicamente agitam a apatia passiva dos partidos. Há dias, escrevia uma jornalista, num artigo de opinião, que “custa imaginar o que seria a actualidade política sem o sublime espectáculo a que o partido nos habituou. A campanha, em curso, para escolher o novo chefe que irá pastorear as eternas desavenças da trupe, revela bem a capacidade criativa dos seus organizadores. É quase impossível resistir à sofisticação dos ingredientes. Entre os laboriosos jogos dos caciques locais, a descarada "compra" de apoios, os pequenos ódios à flor da pele, o regresso do "menino guerreiro", as divisões das hostes e as velhas intrigas da praxe, o PSD transformou-se numa ficção desenjoativa que ignora olimpicamente o que se passa na realidade (…) Longe de garantir qualquer alternativa viável, o maior partido da oposição, na sua gloriosa inconsistência, tem sido, pelo contrário, o grande trunfo do eng. Sócrates, contribuindo generosamente para a reedição de uma maioria absoluta do PS. Infelizmente e tendo em conta o circo que, entretanto, se montou, não é de esperar que a situação se inverta, por milagre, e que o PSD deixe de ser, de um dia para o outro, mais do que um permanente foco de intrigas e do que um mero aglomerado de interesses particulares”.
Neste jogo de oportunismo e de oportunistas, o PSD não é excepção - porque não me esqueço que quando os social-democratas foram poder em Lisboa, mais do que não terem resolvido questões essenciais para as autonomias, acabaram por revelar-se interlocutores difíceis de lidar. Lembro-me, por exemplo, das mais de 30 medidas negociadas por João Jardim com os governos de Barroso e depois de Santana, a esmagadora maioria das quais foi pelo “cano abaixo”. Ou seja, nada fizeram, adiaram, tal como todos os outros. Porque depois, quando chegam ao poder, entramos num diabólico jogo de conciliação de interesses entre regiões, de gestão de conflitos, de estabelecimento de prioridades num rol imenso de reivindicações e na contenção de protagonismos que impedem que um governo tome medidas a favor de uma região em concreto, sob pena de sofrer, depois, pressões para que tomem medidas semelhantes a favor das demais regiões.
Pedro Santana Lopes, eu conta com o apoio de Alberto João Jardim, veio há dias ao Funchal fazer não percebi o quê. O apoio estava dado mesmo antes de ter vindo ao Funchal e se pensa que por cá ter estado aumentou a sua base de apoio, pode “tirar o cavalinho da chuva”. Santana continua a ser hoje, três anos depois da desastrosa derrota do PSD sofrida em Fevereiro de 2005, a causa de tudo o que aconteceu, antes e depois desse acto eleitoral. Ajustar contas ou fazer acusações, com três anos de atraso, tentando agora envolver Jorge Sampaio numa situação que faz parte do passado, é absolutamente ridículo e revela um pouco o carácter da pessoa em questão. Ou será que será necessário recordar tudo o que se passou entre o abandono de Barroso e a dissolução da Assembleia da República, as tropelias, as divisões no PSD, os ministros que entraram e saíram, os ministros que saltaram de pasta em pasta, a instabilidade política e parlamentar latente, porque o CDS/PP que olhava para Santana Lopes com desconfiança?
Li na imprensa que Santana Lopes negou ter passado uma “rasteira” a Jardim aquando do Conselho Nacional, onde o líder madeirense estaria para se apresentar como candidato. Eu mantenho o que sobre isto disse: Santana Lopes não era candidato, nesse mesmo dia passou para o “Expresso” a notícia de que tinha negociado com Jardim a continuidade na liderança parlamentar quando já tinha decidido (e estava a preparar) que seria candidato. Aliás Jardim já várias vezes disseque foi surpreendido com a decisão de Santana. Mais palavras para quê? Deixe-se de patetices. Santana Lopes reafirmou a sua defesa das autonomias regionais, mas nisso não é diferente, nem melhor, nem pior que os demais candidatos, pois todos dirão que são defensores da autonomia política regional. Todos! Quanto á questão da “compatibilidade ideológica” que Alberto João Jardim disse ser o motivo do seu apoio a Santana, prefiro passar ao lado. Qual é a ideologia do PSD, não do partido que hoje existe, mas do partido desde que morreu a sua grande referência? Se essa dicotomia ideológica, entre a “direita” e a ”esquerda” deixou de existir, porque motivo os partidos políticos se diferenciam pela ideologia e não pelas propostas programáticas ou pela, competência dos seus principais dirigentes? Tenho dúvidas, acho que daria um interessante debate. Quantos eleitores votam nos partidos em função da ideologia destes? Quantos eleitores conseguem tratar ideologicamente os partidos nos quais votam? Quantos militantes do PSD votarão nas “directas” de 31 de Maio, não em pessoas, mas influenciados por questões ideológicas?
Uma curiosidade: a coincidência (?) de pontos de vista sobre a lei de finanças regionais, entre Santana e passos Coelho – não me lembro de os ouvir falar do assunto quando a lei foi aprovada na sua nova versão...: Santana Lopes manifestou o desejo de alterar a actual Lei das Finanças Regionais, enquanto Passos Coelho defendeu um “aprofundamento das autonomias regionais”, criticando à alegada discriminação da região por parte do Governo da República. Mas lá foi acrescentando uma frase, estranha mas reveladora das reservas que existem bem lá no fundo: “ao nível da reserva relativa das competências da Assembleia da República e dos parlamentos regionais, em face das interpretações feitas pelo Tribunal Constitucional, há espaço para uma maior clarificação e maior aprofundamento em matéria de revisão constitucional. Agora isso não significa reduzir o Estado à sua expressão mínima, mas que podemos ir mais longe”. Relativamente à Lei das Finanças Regionais, Coelho garantiu que “a Madeira tem sido vítima de uma injustiça política”, criticando o facto do governo socialista ter tomado uma medida discriminatória. Mais do mesmo. Só isso. aquém tiver tempo e pachorra, que os ature.


Luís Filipe Malheiro (in Jornal da Madeira, 26 de Maio de 2008)

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Opinião: JUSTIÇA, FUTEBOL E OUTRAS “GUERRAS”…

Não é novidade para ninguém esta “guerra” entre o Norte e o Sul, envolvendo agora o futebol – aliás, o “caso” FC Porto que ainda corre na justiça, caso conheça novos contornos, por exemplo a inibição do clube em participar na próxima edição da Liga dos Campeões, poderá originar graves tumultos, exactamente porque dois clubes de Lisboa (Benfica e Belenenses) seriam os grandes beneficiados com esse cenário ainda meramente hipotético e sem qualquer confirmação oficial pela UEFA – tem também uma forte componente política que transcende a mera rivalidade regional entre os nortenhos e os “mouros”. Aliás, eu não tenho dúvida que esta justiça desportiva que agora se vangloria e que reclama um estatuto de exemplaridade que não tem, conheceria decisão diferente e tomaria caminhos substancialmente opostos se, por exemplo, os seis pontos que retirou ao Porto, penalizando por actos de corrupção, lhe retirassem o título. Aí sim, é que eu queria ver a força da justiça desportiva e a capacidade de decisão e a coerência de todos os que a administraram. É muito fácil retirar 3 pontos a uma equipa (Leiria) que já tinha descido, irremediavelmente de divisão, e retirar outros 6 pontos a uma equipa (Porto) que era e continuaria a ser, irremediavelmente também, campeã nacional, dada a larguíssima vantagem pontual que desfrutava para o segundo classificado.
O problema, que subsiste, é esta ideia, que aos poucos se foi construindo à volta do fenómeno do futebol nacional, que ele simboliza a impunidade total em relação à ilegalidade, a suspeição crescente que circunda todas as decisões, futebol português que se transformou numa espécie de “antro de perdição”, onde tudo é permitido, onde se cruzam cumplicidade várias, mas que continuar a precisar de uma limpeza a sério, de gente séria no seu comando, de combater actos de corrupção, de esclarecer todas as dúvidas, de responder a todas as dúvidas, de combater os dirigentes, todos sem excepção, que se agarram aos lugares quais lapas, impedindo a renovação e a introdução de novas ideias e de novos modelos de gestão, tem que substituir pessoas que apenas se usar do futebol para mediatismos e protagonismo pessoal que nada tem a ver com a modalidade em si mesma, mas que se direccionam para outras frentes, políticas incluídas, precisa de castigar e afastar clubes que não cumpram as suas obrigações, de impedir que dirigentes condenados se mantenham em postos-chave, enfim, precisa de ser uma instituição exemplar, só possível com uma revolução que nunca poderá acontecer com quem se preocupa apenas em sobreviver e manter-se nos lugares e tem uma quota-parte de grande responsabilidade no estado a que as coisas chegaram.
Por isso quando me tentam agora dizer que as coisas mudaram, que agora temos processos judiciais, que há clubes penalizados, que temos “apitos” de todas as cores e todos os gostos, limito-me a rir. Porque na realidade, no essencial, tudo continua na mesma, porventura com mudanças pontuais, aqui ou acolá, que em nada beliscam o sistema, porque a revolução que, doa a quem doer, tem que ser feita para sobrevivência do próprio futebol, como a seu tempo teremos oportunidade de constatar. Basta que proliferem, como na próxima época vai acontecer, estou convencido, casos de clubes sem dinheiro para pagar salários e despesas salários em atraso ou mais casos de corrupção, para que tudo isto seja posto em causa e a bagunça continue, sem que a tal “justiça desportiva” que agora pomposamente por aí anda histérica e euforicamente saltitante, possa fazer seja o que for.
Neste quadro, futebóis à parte, registei há dias uma notícia curiosa, na medida que ajuda a perceber, assim espero, o essencial desta ”guerra” entre o Norte e o Sul, notícia que teve a ver com declarações de Rui Rio, o polémico Presidente da câmara do Porto mas que retratam um certo estado de espírito, se quiserem, uma maneira de estar, que ultrapassa, no plano político, o sentimento reinante nas bases de um ou de outro partido, pelo contrário, encontra fácil um grande consenso que transversalmente une partidos e personalidades de quadrantes diferentes, e que se repete sempre que se trata de defender o Norte e, mais particularmente o Porto. Uma realidade que, infelizmente, não podemos constatar exista noutras paragens (regiões) e que nem sequer se me afigura pensável, por razões que neste momento não vou desenvolver nem evidenciar.
De facto, o presidente da Câmara do Porto, Rui Rio, criticou recentemente o "excessivo investimento por parte do Estado em Lisboa, alegando que o mesmo atingiu um "patamar de exagero. Acho que isto atingiu um patamar muito para lá do que seria razoável", disse o autarca. Rio salientou que o limite do investimento na capital portuguesa foi ultrapassado com a verba de 400 milhões de euros destinados à reabilitação da frente ribeirinha de Lisboa, lembrando ainda que "ao longo da história tem havido um excessivo investimento em torno da capital do país, com o consequente esquecimento" do restante território nacional”.
Serão precisas mas palavras?


Luís Filipe Malheiro (in Jornal da Madeira, 23 de Maio de 2008)

quinta-feira, 22 de maio de 2008

"Óscar da Web" para o homem que gozou com o Google e a Wikipédia

Segundo o jornalista do Publico, João Pedro Pereira, "no dia 10 de Junho, numa cerimónia que ocorre durante a semana que a cidade de Nova Iorque dedica à Internet, o comediante americano Stephen Colbert deverá subir ao palco para receber a estatueta dos chamados Óscares da Web (em vez da famosa figura dourada, os premiados com um Webby recebem uma espiral prateada) e consagrar-se como Pessoa do Ano no mundo da Internet.O galardão foi atribuído a Colbert - que tem um programa televisivo de sátira política onde encarna a personagem de um apresentador narcísico - pela "forma inovadora como usou a Internet para interagir com os fãs": enganou o Google, gozou com a Wikipedia e bateu em popularidade online os candidatos presidenciais.Desde 1997 que os Webby atribuem distinções em quatro grandes áreas: sites, publicidade interactiva, filmes online e sites para telemóveis. Para além disto, há prémios especiais, como o de Colbert. Cada área está divida em várias categorias, para as quais existem sempre dois premiados: um é escolhido pelo júri e o outro é uma decisão do público, que pode votar online. A iniciativa é organizada pela Academia Internacional das Artes e Ciências Digitais, de que fazem parte dezenas de personalidades interessadas em promover o uso da Internet - do músico David Bowie ao realizador Francis Ford Coppola, passando pelo "pai" da Internet, Vint Cerf, e pelo criador dos Simpsons, Matt Groening.Um dos feitos que fez Colbert merecer o prémio desta academia foi a criação de uma "bomba" no Google. Trata-se de uma técnica que permite a um site ser o primeiro resultado nas páginas deste motor de busca quando se introduz uma frase específica"

Opinião: PRECAUÇÕES

Ninguém duvida, por muito forte, atractiva e aliciante que seja a propaganda, que os tempos não auguram motivos para grandes esperanças. A crise, que finalmente chegou a Portugal – pelos vistos o nosso país não conseguiu passar ao lado do ricochete da crise iniciada nos EUA e que o Presidente do Banco Europeu ainda esta semana disseque o pior nem sequer tinha ainda passado… - afecta a vida dos portugueses e das empresas, vão condicionar fortemente a política governativa, pode impedir a tomada de medidas agendadas pata o ultimo trimestre deste ano mas sobretudo para o ano eleitoral de 2009, pelo que recomenda o bom senso que os portugueses não se envolvam em grandes aventuras, que controlem os níveis consumistas, que tanto quanto possível (não sei bem como, mas…) comecem a poupar e que não se endividem para além de níveis aceitáveis. Não se trata de querer ser alarmista ou de cair no exagero de querer insinuar sequer que o “inferno” vem aí. Nada disso. Trata-se, tão-somente, de apelar ao bom senso e á inteligência de perceber realidades – os meios de comunicação social são fundamentais nessa ajuda – que muitas vezes os políticos não querem que as pessoas percebam na sua amplitude e dimensão real. Existem notícias, recentes, que recordo resumidamente, que ajudam a perceber – assim espero – os motivos dos meus apelos à reforçada precaução, ao redobrado cuidado e á recusa em aventurar-se em compromissos que depois acabam por penalizar os orçamentos familiares, desequilibrando-os e criando problemas que nalguns casos podem ser graves:
- “Os portugueses precisarão este ano de trabalhar 139 dias só para pagar impostos, o que quer dizer que até ao passado dia 19 de Maio trabalhamos todo para cumprirmos essa obrigação. Só depois de 20 de Maio o salário se torna verdadeiro rendimento líquido, indica um estudo apresentado no denominado “Dia de Libertação dos Impostos”, em que a cobertura da carga fiscal pelos rendimentos dos cidadãos fica completa. O estudo do Gabinete de Análise Económica da Universidade Nova de Lisboa, em colaboração com a Associação Industrial Portuguesa “não adianta nada em relação às contrapartidas que o Estado presta aos contribuintes pelo cumprimento das suas obrigações fiscais” mas sempre foi lembrando que os suecos precisam de trabalhar até meados de Junho para atingirem o seu DLI, neste caso “sem qualquer sentimento de insatisfação, uma vez que as contrapartidas que recebem do Estado em serviços e o retorno da carga fiscal em benefícios sociais são vistos como largamente compensadores”;
- O número de trabalhadores por conta de outrem aumentou 1,1% no primeiro trimestre do ano, face ao período homólogo, em parte sustentado no incremento de 11% dos contratados a termo. Indicadores do Instituto Nacional de Estatística confirmam que no final do primeiro trimestre deste ano havia em Portugal quase 4 milhões de trabalhadores por conta de outrem, mais 42,2 mil indivíduos do que no mesmo período do ano de 2007. Havia 718,1 mil trabalhadores com contratos a termo no primeiro trimestre, mais 71,4 mil do que no período homólogo transacto, enquanto que o número de trabalhadores com contrato sem termo caiu 0,8% (menos 22,9 mil indivíduos). O INE diz que “mais de 60% dos trabalhadores com contratos a termo encontrava-se no sector dos serviços e 34% no sector da indústria, construção, energia e água”. Os contratos a prazo, afectam envolviam mais os homens (51%) do que as mulheres (49%);
- Por outro lado, os salários dos administradores executivos das empresas que integram o chamado PSI-20 desceram 2% no ano passado, acompanhando o recuo de 1,7% nos lucros das cotadas, conforme revelou um estudo divulgado pelo "Jornal de Negócios". De acordo como periódico, atenuou-se também a diferença entre os salários dos administradores e os trabalhadores das respectivas empresas, na medida em que enquanto que em 2006 um trabalhador tinha de trabalhar, em média, 30 meses para ganhar o mesmo que um administrador ganha mensalmente, no ano passado esse fosso diminui (em 2007, os administradores tinham um ordenado 23 vezes maior do que os trabalhadores). Quanto às remunerações dos gestores, o panorama de 2007 evidenciou uma inversão em relação a 2006, já que os salários dos administradores tinham crescido cerca 9% e os lucros das empresas subido pouco mais de 2,5%. Mas o ano e 2007 foi de descidas, maiores nas remunerações do que nos lucros. O “JN” revela que apenas oito empresas diminuíram os salários das suas administrações, o que quer dizer que, não fossem os fortes cortes do Millennium BCP ou da Semapa, as remunerações do grupo das empresas do chamado PSI-20 teriam subido novamente. Na lista das empresas cotadas que melhor pagam aos seus gestores, o BCP diminui para 1,7 milhões de euros o salário de cada administrador, contra os cerca de 3 milhões que recebiam no ano anterior. A Semapa fez o mesmo que o banco, já que os seus administradores executivos viram a remuneração cair 74%, passando dos 1,8 milhões de euros (em 2006) para 466 mil (em 2007). No outro extremo aparecem a Sonae e a Portugal Telecom, as empresas que pagam os salários mais elevados aos seus gestores. Na PT cada administrador executivo ganhou, em média, 2,2 milhões de euros, 99 vezes mas do que um trabalhador da empresa, enquanto que a Sonae SGPS, aprovou uma subida de 138% nas remunerações da administração do grupo, totalizando os 10,8 milhões de euros;
- O governo socialista de José Sócrates, garante o “Diário Económico”, continua longe da meta dos 150 mil, traçada para a legislatura, revelam os dados do INE. Isto porque desde que o executivo tomou posse apenas foram criados 96,6 mil novos empregos. Isto porque desde que o governo tomou posse, no final do primeiro trimestre de 2005, foram criados 96.600 postos de trabalho. “Os dados sobre o mercado do emprego, divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística revelam que os primeiros meses de 2008 permitiram atenuar a destruição de emprego verificada no final do ano passado, mas ainda assim continuam a faltar 53.400 postos de trabalho para que o Executivo cumpra o que prometeu”, diz o “DE”. Em termos globais, no final do primeiro trimestre de 2008, a população portuguesa empregada situava-se nos 5.191 milhões, mais 55,3 mil pessoas do que os registados no período homólogo e mais 2,8 mil do que no final de 2007;
- O Produto Interno Bruto (PIB) português avançou 0,9% no primeiro trimestre, face ao período homólogo, menos 0,9 pontos percentuais que no trimestre anterior, de acordo com um estimativa do Eurostat, divulgada pelo Instituto Nacional de Estatística. Segundo o INE, "este abrandamento estará relacionado com o menor dinamismo da procura interna, particularmente do investimento, e reflectirá também efeitos de calendário significativos". O documento adianta que nos primeiros três meses do ano, o consumo privado terá estabilizado devido a uma aceleração do consumo corrente e do abrandamento do duradouro. A contribuir para este abrandamento esteve ainda uma desaceleração do investimento, nomeadamente na área da construção, garante o “Jornal de Negócios”. Na Zona Euro, o Eurostat estima que o PIB terá crescido 2,2% no primeiro trimestre deste ano, uma variação idêntica à verificada no trimestre anterior, estabilização que resulta de "um comportamento heterogéneo das principais economias da Área Euro, destacando-se a aceleração verificada na Alemanha, a estabilização em França e o abrandamento em Espanha".
Dúvidas?


Luís Filipe Malheiro (in Jornal da Madeira, 22 de Maio de 2008)

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Beautiful French Girl

Beautiful Rainbow

Opinião: Uma visita...

Li recentemente num jornal local uma curiosa noticia intitulada “Ninguém desafiou Sócrates para visitar a Madeira”, que não deixa de ser intrigante na medida em que, por um lado, porque estes assuntos não se resolvem nos jornais, por outro, os convites não precisam de “intermediários” (ou se fazem directamente ou não se fazem), por outro uma cosia são visitas de carácter partidário outra coisa são visitas institucionais que precisam de se preparadas para que delas resultem efeitos concretos e porque, finalmente, se bem me lembro, o próprio Alberto João Jardim, durante a recente visita oficial de Cavaco Silva à Madeira, afirmou publicamente o interesse e a utilidade de uma deslocação oficial de Sócrates à Madeira. Revela o jornalista autor da notícia, citando o próprio primeiro-ministro: "ao contrário. Ninguém me falou nisso". Esta foi a resposta fugidia de José Sócrates quando questionado sobre a eventualidade de ter sido desafiado pelos madeirenses residentes na Venezuela a visitar brevemente a Região”. A verdade é que o jornalista reconheceu que parece existir da parte do primeiro-ministro vontade de uma deslocação oficial à Madeira.
O jornal em questão acrescentava que o gabinete de José Sócrates “trabalha para que a visita ocorra, mas de forma a que o poder regional não tenha interferências no programa, nem motivos para exibicionismos de Jardim e seus pares à custa do Chefe do Governo. "Deve ser um momento de Estado". Confesso que não percebi. Organizar uma visita sem interferências de Jardim? Nesse caso Sócrates resolve vir à Madeira por sua iniciativa e faz ele próprio o programa? Mas quem é que, neste contexto, obriga o executivo regional, e todos os serviços directa ou indirectamente dependentes do executivo, bem como as autarquias, a se envolverem na visita? Ou estarão a falar, pretensamente, apenas uma visita de afirmação da tutela colonial do governo de Lisboa sobre os serviços existentes na região e que ainda dependem da República. As coisas não são como muitas vezes se noticia, pelo simples facto de que institucionalmente não funcionam assim.
Sócrates, por exemplo, foi recentemente à Venezuela, assinar não sei quantos acordos com Chávez. Será que o primeiro-ministro não cumpriu o programa que o presidente venezuelano lhe pôs na mesa para se servir, ressalvando a parte que envolveu as comunidades? Será que Chávez, uma vez mais (lembram-se que ele até usou numa campanha eleitoral um cartaz em que ele aparecia a cumprimentar Sócrates numa altura em que estava completamente isolado perante os países ocidentais facto que originou a reacção incomodada de Lisboa?) Será que nesta visita não houve exibicionismo de Chávez e dos seus pares? Ou teremos que voltar a ver as reportagens televisivas (as emitidas e as outras que foram deliberadamente “arquivadas”…) da visita? E Chávez, só por acusa do petróleo, é um exemplo inquestionável de um líder verdadeiramente democrático, respeitador dos direitos da oposição (veja-se a televisão encerrada pelo simples facto de que o incomodava) e que está totalmente desligado do poder (veja a tentativa de referendar uma Constituição que visava mantê-lo no poleiro por tempo indeterminado). Marcelo Caetano tinha na RTP as ais “Conversas em Família”. Alguns ainda se lembrarão. E Chávez que tem o seu programa “Alô Presidente” (que chega a demorar 5 e 6 horas!)? A rapaziada do gabinete do primeiro-ministro teve algum protagonismo ou poder de decisão neste programa da visita? O jornalismo também precisa destas cosas, de confrontar as pessoas com situações reais, de colocar em evidência esta diferenciação de atitudes. Na Venezuela, bico calado porque precisavam dos papéis assinados. Mas em relação à Madeira, já recuperam o pio e com ou sem fundamento – eu acredito no que os jornalistas escrevem, mas não acredito em todas as fontes de informação. Voltemos às questões sérias.
Para que se evitem confusões, quero desde já salientar que considero que seria importante para a Madeira e para o relacionamento institucional desta com o Governo da República, uma visita oficial do primeiro-ministro. Entendo, seja-me permitido, que no actual quadro político e parlamentar, regional e nacional – e não consigo deixar de ser pragmático e realista – existem "pontes" que terão que ser lançadas e mantidas, discretamente, longe do mediatismo comunicacional, mas que sejam eficazes, funcionais, que pugnem pela seriedade do relacionamento institucional. Dando continuidade ao trabalho já realizado, ou explorando novas potencialidades, para que essa reaproximação seja possível. Eu sei que entre Alberto João Jardim e José Sócrates – provavelmente também por uma questão de feitio, dirão alguns, mas sobretudo por razões de ordem política – dificilmente os veremos remar para o mesmo lado ou envolvimentos num sintonia total. Nem a isso são obrigados, como é evidente. Ninguém obriga dois políticos de partidos diferentes – e que por razões que não vou agora recordar, cavaram entre si um fosso aparentemente intransponível – a terem que abdicar das suas diferenças e a se deixarem manipular pela hipocrisia de mostrarem ou serem o que não são. Mas o respeito pela diferença, inclusivamente de pensamento, não pode, não deve, melhor dizendo, impedir que o necessário e desejável relacionamento institucional entre a Região e a República se normalize. A Madeira sabe que nunca terá da parte de Lisboa – e no passado isso já aconteceu – tudo o que pede, aliás o mesmo aconteceu com governos do PSD no Terreiro do Paço. Mas Lisboa também sabe, provavelmente pelo passado e pela "tradição" de uma “conflitualidade” reivindicativa, que as Regiões Autónomas dificilmente deixarão de insistir em reclamar sempre mais, em nome de uma insatisfação que acredito José Sócrates aceite como perfeitamente admissível e lógica.
Portanto, e ressalvando esta questão preliminar, acho que José Sócrates deveria visitar a Madeira, tendo por base um programa oficial que não seja um instrumento gerador de conflitos, elaborado à margem dos legítimos órgãos de governo próprio, democrática e livremente eleitos pelos madeirenses, mas antes procurando, tanto quanto possível, conciliar várias ideias, sem hostilizar a legitimidade do voto popular na região. A mesma legitimidade que o governo socialista, saído da actual maioria parlamentar do PS, tem por ter sido essa a vontade dos portugueses em Fevereiro de 2005. Transformar uma eventual visita oficial (?) à Madeira num novo foco de conflitualidade com a Região, ou hostilizar deliberadamente o Governo Regional, apenas por motivações político-partidárias, seria desastroso, um erro. É por tudo isto que, respeitando o trabalho do jornalista, mas duvidando da seriedade e da competência das suas fontes, que recuso acreditar na existência de alguma consistência nas declarações dessas "fontes governamentais".
Foi neste quadro que li que JCG Gouveia, abordando o assunto, garantiu que a agenda do PS-Madeira é independente da do secretário-geral do PS. Mas lá foi dizendo, inevitavelmente tinha de o dizer, que Sócrates não precisa de vir à Madeira fazer o que Cavaco fez, retomando as críticas habituais a Jardim e à política regional. Eu estou desejoso de ver o que vai acontecer a Gouveia em 2009, em São Vicente, onde será candidato, para ficarmos a saber se algum líder, que não ganha no seu concelho, terá a coragem de tomar a atitude adequada, por não poder continuar a liderar um partido que aspira a voos mais altos.
Sócrates, ao contrário do que os seus correligionários locais julgam, sabe mais do que eles, tem objectivos para 2009 que nada têm a ver com os socialistas locais, manterá um comportamento político que é determinado em função de metas estabelecidas, num contexto conjuntural onde não acredito que o PS da Madeira, sobretudo depois de Maio de 2007 e da copiosa derrota sofrida, tenha qualquer influência. Acredito que Sócrates sabe que tem duas opões: ou deixa-se aliciar pelas alegadas “pontes” que precisam de ser construídas, porque é intolerável manter esta situação ou parte para o ciclo eleitoral de 2009, mantendo uma atitude de hostilização propositada relativamente à Madeira, o que significará, não duvidem, que o PS local vai continuar a sofrer as consequências disso. Por isso, tenho dificuldade em entender a estratégia de JCG e do PS local: será que depois de Maio de 2007, do que lhes aconteceu nas urnas, ainda não entenderam as causas desse desaire?
Luís Filipe Malheiro (in Jornal da Madeira, 21 de Maio de 2008)

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Opinião: CANDIDATURAS REFÉNS? (I)

Retomo hoje o tema com que encerrei o meu texto de opinião de ontem. Dirão alguns – porventura mais atentos, conhecedores e sabedores da realidade do que eu – que estou apenas a especular por não ter uma consistente base que fundamente o que afirmo. Sim senhor, não tenho essa base, optando apenas por tentar desenvolver uma teoria que, não sendo nova, nem sequer sendo minha, não deixa de, ao menos, suscitar uma reflexão, por muito maquiavélica que ela possa parecer. Em política, e particularmente em determinadas conjunturas político-partidárias mais agrestes, tudo é possível, parecendo que não há limites, nem para o imaginário ou ficcional. Falo da eventual relação indirecta, nos moldes que cada um entender estabelecer, entre a candidatura de Ferreira Leite, tida como a mais favorita nas sondagens, publicadas ou nas que foram guardadas na gaveta, e Cavaco Silva, numa ligação pessoal e política que alguns admitem poder ser suficiente para influenciar as bases do PSD, mas que outros não excluem possa construir razão de desconfiança e de fragilização da candidata.
Não é novidade para ninguém que Ferreira Leite – e ela não esconde isso, porque também não se trata de nenhum crime – está ligada a Cavaco Silva por relações de amizade, pessoais e familiares, que não são de hoje, que foi sua ministra e que, por tudo isso, foi convidada pelo Presidente a integrar o Conselho de Estado. Portanto, negar o “cavaquismo”, digamos assim, de MFL seria negar a evidência. Todos se recordam que Cavaco Silva, durante a sua recente visita à Madeira, fez um grande esforço para não abordar o tema – lembro que foi durante essa visita que os acontecimentos no partido se precipitaram e o nome de Ferreira Leite começou a aparecer na comunicação social como potencial candidata – embora alguns tivesse ficado com a convicção de que, pelo menos alguns membros do seu “staff” estariam a fazê-lo e, mais do que isso, estariam convencidos que a ex-Ministra da Educação e das Finanças, não avançaria. A evolução dos acontecimentos, apontando noutra direcção, indicia – ou pelo menos deixam essa dúvida – que a candidatura de Manuela Ferreira Leite esteja longe de constituir uma aventura, o que implicaria uma prévia preparação da mesma, uma auscultação ao partido e a garantia de apoios que necessariamente teriam que ser assegurados, neste caso, visando a operacionalidade (no terreno) de uma candidatura à liderança de um partido.
É um dado adquirido que o PSD chegou a um estado tal que, sem uma verdadeira revolução interna, emanada a partir das bases para o topo e não uma revolução se sentido inverso, elitista, imposta por aqueles que, desde sempre têm ocupado os patamares superiores de influência e de protagonismo mediático, que desta forma tudo fariam para garantir a sua sobrevivência e a estabilidade de posições, por via da manipulação do processo de decisões. Uma revolução no PSD implica uma mudança de protagonistas, uma nova estrutura, uma nova forma de funcionamento, um novo modelo de ligação entre eleitos e eleitores mais eficaz e verdadeiro, uma aposta numa nova participação dos militantes não apenas no processo formal de consulta interna por constituir a aplicação obrigatória de disposições estatutárias, mas inclusivamente noutros processos decisórios que em momentos particularmente importantes não podem estar reservados a dirigentes iluminados ou a nomenclaturas pouco interessadas em ir ao encontro dos tais patamares mais inferiores, onde se localizam as bases, no fundo, a essência dos partidos. Uma revolução que respeite apenas a ideologia, os princípios programáticos essenciais e ao símbolos. Não se revoluciona um partido, nem se altera a amplitude do seu grau de receptividade e de credibilidade junto da opinião pública, mudando símbolos, contratando agências de comunicação, valorizando o supérfluo em detrimento do essencial, alterando cores, ou pintando as caras dos dirigentes ou dos candidatos. Essa operação de cosmética, nunca propiciará os resultados esperados, porque facilmente desmistificável e olhada como uma mera tentativa de iludir (ou enganar) o eleitorado.
Mas o PSD enfrenta outra realidade, que eu reconheço incómoda, e que alguns não desejam abordar, não só pelas suas implicações mas, sobretudo, pela complexidade que a mesma comporta. Refiro-me ao facto de serem muitos os que hoje têm a convicção que o PSD dificilmente consegue dissociar este seu actual processo interno de disputa da liderança, dos projectos, naturais e legítimos – atendendo à tradição dos seus antecessores – de Cavaco Silva no que a uma reeleição pacífica em 2011 diz respeito. Neste contexto, e admitindo uma componente especulativa que apenas o próprio poderia negar ou confirmar, a tradição eleitoral portuguesa mostra que, desde que os candidatos presidenciais, civis e ligados a partidos políticos, passaram a concorrer a Belém, abandonando-se a ideia de que aquele palácio era reserva exclusiva de candidatos militares, nunca os portugueses atribuíram, à direita ou à esquerda, a tal maioria total – “uma maioria (parlamentar), um governo e um Presidente” – uma máxima lançada por Francisco Sá Carneiro em 1980, já em desespero, quando começou a verificar que o candidato apoiado pela então AD (por sinal um general, Soares Carneiro) não conseguia vencer o candidato, (outro general, Ramalho Eanes) apoiado pela esquerda, nomeadamente pelo PS. Sá Carneiro jogou nas presidenciais de 1980, tudo o que tinha e não tinha – aliás viria a morrer quando viajava de Lisboa para o Porto, em plena campanha eleitoral, para participar num comício nos Aliados – mas a Aliança Democrática não conseguiu concretizar os seus objectivos eleitorais. Deixando para o próximo texto a conclusão desta temática (inclusivamente recordando protagonista se indicadores estatísticos), limito-me a deixar uma questão para a reflexão: o que será mais importante para Cavaco Silva e para a sua estratégia de reeleição considerando a tradição eleitoral portuguesa? Um PSD dotado de uma liderança forte, quero lá saber se populista, e com possibilidades de ganhar as legislativas de 2009, ou um PSD liderado por uma pessoa séria, com fama de “dura”, admito que dotada de algum carisma mas sem possibilidade de destronar o PS e José Sócrates em 2009? Assim sendo, acham que uma corrida com as características da disputa pela liderança do PSD pode passar assim tão despercebida ou ser “ignorada” por Belém ou por sectores afectos ao Presidente e que naturalmente continuam no PSD ou a movimentar-se na periferia do PSD? Mais. Até que ponto uma derrota de Manuel Ferreira Leite poderá ser “colada” a Cavaco Silva ou até que ponto uma menos provável vitória de Santana Lopes poderá ser considerada uma “derrota” de Cavaco, tudo por causa da polémica entre ambos surgida antes de barroso ter ido para Bruxelas, mas quando já se discutiam potenciais candidatos presidenciais apoiados pelo PSD? Lembram-se da célebre eleição presidencial de Mário Soares, que se candidatou com menos de 6% do eleitorado, mas que foi por ”ali fora” até se sentar em Belém? Penso que essa eleição presidencial – verdadeiro “case study” - não foi até hoje devidamente analisada em todos os seus pormenores.
Luís Filipe Malheiro (in Jornal da Madeira, 16 de Maio de 2008)

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Bilionário indiano constrói casa mais cara do mundo

Li aqui que "o bilionário indiano Mukesh Ambani vai inaugurar o seu novo lar de 27 andares em 2009. Com um custo estimado em dois mil milhões de dólares, mais de mil milhões de euros, o prédio high-tec que vai alojar Ambani e a sua família será a residência mais cara do mundo, escreve o jornal brasileiro Globo. De acordo com a revista Forbes, Ambani, dono do gigante da indústria petroquímica Reliance Industries, é o quinto homem mais rico do mundo, com um património avaliado em cerca de 43 mil milhões de dólares, mais de 28 mil milhões de euros. Até à inauguração da super-casa do indiano em Mumbai (antiga Bombaim), a residência mais valiosa disponível no mercado imobiliário mundial, de acordo com a Forbes, é a cobertura triplex do Pierre Hotel, em Nova York. O apartamento, construído para imitar um castelo francês, custa «apenas» 70 milhões de dólares (cerca de 45 milhões de euros), 3,5 por cento do custo final estimado da mansão de Ambani. Para preencher os 37 mil metros quadrados da residência, Nita Ambani, mulher do bilionário, escolheu a variedade de estilos. A decoração de cada um dos 27 andares é diferente em cada detalhe. Nenhum material usado numa área é repetido noutra. Desta forma, o custo da decoração é bastante mais alto do que o de um hotel de luxo, onde a padronização ajuda a deixar a obra mais barata. Só em estacionamento, Ambani tem seis andares para guardar a sua colecção de carros clássicos e desportivos. Do átrio saem nove elevadores para os quartos e duas escadas, com corrimão de prata, para o salão principal que tem o tecto coberto por candelabros de cristal. A tecnologia será também um factor marcante na construção. As salas terão paredes cobertas por gigantescos televisores em LCD, com sistemas de som embutidos em móveis, no chão e no tecto. As adegas estarão ligadas a computadores que controlarão a temperatura e os stocks de cada vinho. Os computadores também vão controlar a irrigação dos jardins construídos nos átrios dos andares superiores. A casa tenta também ser ecologicamente correcta. Cobertas por plantas, as paredes serão capazes de absorver a temperatura e evitar o uso excessivo de aquecedores no Inverno e de ar condicionado no Verão".

“Os portugueses estiveram na Austrália, os ingleses descobriram-na”

Num texto da jornalista do Publico, Susana Almeida Ribeiro, escreve esta: "Há onze anos, João Oliveira e Costa foi à Austrália em trabalho. Querendo avaliar as necessidades da comunidade portuguesa instalada nos nossos antípodas, o historiador da Universidade de Lisboa resolveu perguntar aos compatriotas o que é que eles precisavam. “Equipamentos de mergulho”, responderam. “Porquê?”, terá perguntado. “Queremos ir buscar ao fundo do mar as provas de que os portugueses foram os primeiros a chegar cá”, responderam eles.O episódio, contado à laia de anedota pelo professor Oliveira e Costa na conferência “Portugueses na Austrália”, que decorreu hoje no Museu da Ciência, em Coimbra, serviu para enquadrar uma discussão que é tudo menos recente. Desde a segunda metade do século XIX que se discute a possibilidade de terem sido os portugueses os primeiros a atingir as costas australianas, embora a descoberta oficial esteja registada em nome do navegador britânico James Cook, em 1770. O debate veio novamente a lume na sequência da recente publicação em português do livro “Para Além de Capricórnio”, do jornalista Peter Trickett (publicado no ano passado). Este britânico residente na Austrália defendeu a teoria de que os portugueses – mais concretamente Cristóvão de Mendonça – terão sido os primeiros europeus a chegar ao continente australiano ainda durante o primeiro quartel do século XVI. O jornalista baseou-se em observações e experiências com algumas cartas do Atlas de Vallard, um conjunto de 15 mapas que os historiadores aceitam terem sido feitos a partir de cartas portuguesas que descrevem 120 acidentes geográficos com nomes lusos".

Europeus abusam de drogas para ter sexo

Li aqui, num texto de Raquel Pinto, que "jovens adultos procuram estratégia para melhorar as suas vidas sexuais, revela um estudo científico realizado em nove países e que inclui Portugal. Beber e consumir drogas para melhorar o desempenho sexual. É um plano a que recorrem muitos adolescentes e jovens adultos europeus, segundo um estudo publicado na revista científica BMC Public Health. A análise do fenómeno incidiu na faixa etária dos 16 aos 25 anos e teve lugar junto de frequentadores de locais de diversão nocturna em nove países europeus: Portugal, Grã-Bretanha, Alemanha, Áustria, República Checa, Grécia, Itália, Espanha e Eslovénia. De 1341 jovens entrevistados, um terço dos homens e 23% das mulheres admitiram a ingestão de bebidas alcoólicas tendo em vista a lograr efeitos sexuais específicos. Alguns referiram recorrer propositadamente a drogas, como cocaína, ecstasy ou cannabis, para alegadamente aumentar o prazer sexual ou prolongar o tempo da relação. Nalguns casos, o seu uso estava ligado ao relacionamento com múltiplos parceiros. Com efeito, a pesquisa sugere que estes jovens estão mais sujeitos a manter relações sexuais desprotegidas, sem preservativo, uma vez que existe um aumento do comportamento de risco". O estudo - "Sexual uses of alcohol and drugs and the associated health risks: a cross sectional study of young people in nine European cities" - na sua versão total está disponível aqui.

Las imágenes del cuerpo en 3D, ahora en la Red

Escreve o jornalista JOHN SCHWARTZ, do "El Pais", que "su padre, David L. Bassett, era experto en anatomía y disección en la Universidad de Washington. Durante más de 17 años, se afanó por crear lo que se considera el conjunto de imágenes del cuerpo humano, por dentro y por fuera, más minucioso y detallado de la historia. Y además en tres dimensiones (3D). Bassett trabajó codo con codo con William Gruber, el creador del View-Master, un sistema de visionado tridimensional que la GAF Corporation popularizó como juguete en los años sesenta. Bassett creó los 25 volúmenes del Stereoscopic Atlas of human anatomy en 1962. Incluía unos 1.500 pares de láminas, además de dibujos lineales que hacían los detalles más fáciles de apreciar. Los pares de láminas se podían ver con el View- Master, lo que hacía que la cavidad del pecho pareciese cavernosa, y que los detalles de las estructuras y los tejidos se nos quedaran permanentemente grabados. El atlas fue un éxito inmediato y las imágenes se convirtieron en un importante recurso para estudiantes de medicina, sobre todo cuando las facultades dejaron de poner tanto énfasis en la anatomía burda o el trabajo con cadáveres. Pero el atlas dejó de publicarse en la década de los sesenta".

Mães despem-se pelos filhos

Para arranjar dinheiro para construir um Centro de Actividades de Tempos Livres para os filhos, algumas mulheres espanholas posaram semi-nuas para um calendário (veja aqui o video com a notícia). Também sobre este assunto a jornalista Paula Cosme Pinto escreveu uma peça no semanário Expresso. Ou veja o video abaixo:

Opinião: DE FORA…

Tal como se previa, confirmou-se ontem a decisão de Alberto João Jardim de se colocar hoje fora da corrida pela liderança do PSD, e, mais do que isso, de não saber ainda se marcará presença no Congresso Nacional a ter lugar em Guimarães. Numa declaração lida ontem no Funchal, em conferência de imprensa, João Jardim disse ter reflectido muito, durante estes dias acabando por concordar com a opinião dominante (dos seus companheiros de partido, na Madeira) “de eu não dever me envolver no estado em que o PSD está mergulhado. Antes, o que se entende necessário e prioritário, é fazer com que o Partido, ultrapassados este tempo e estas pessoas, assuma caminhos novos e se revigore através de outro projecto, que não estes, um projecto de reencontro com o sentir e vontade dos Portugueses. Há passos que só se dão pela certa, e muito menos se dão quando o terreno está armadilhado, desgraçadamente a partir de fora do Partido". O que é facto, é que fiquei com a clara sensação que Alberto João Jardim – que garantiu ao PSD da Madeira o seu não envolvimento com qualquer das candidaturas em confronto – pretendeu deixar portas abertas, particularmente por insistir na afirmação, já anteriormente feita, de que o primeiro trimestre de 2009 será decisivo, sobretudo se o PSD constatar que o líder eleito não tem condições políticas para derrotar o PS e José Sócrates nas legislativas que prevejo venham a realizar-se em Outubro: "Fiquem os meus adversários e detractores a saber que continuarei a lutar por Portugal, sempre na primeira linha do combate político e ideológico, sem medos do que ou quem quer que seja". Aliás, na fase de perguntas e respostas, e interrogado acerca de declarações proferidas nos Açores por Manuela Ferreira Leite (…”é preciso que os militantes e o resto dos portugueses voltem a olhar para o PSD como sendo capaz de enfrentar o primeiro-ministro, José Sócrates, nas eleições em 2009, objectivo só alcançável com a eleição de um líder forte que não pode deitar a toalha ao chão cada vez que é criticado"), João Jardim foi contundente: “Não deitarei a toalha ao chão sobretudo se a senhora (Manuela Ferreira Leite) for eleita líder do partido e eu verificar que não tem condições para derrotar o PS e José Sócrates".
Mas sobre este tema prefiro que sejam os meios de comunicação, que estiveram presentes na conferência de imprensa, a abordá-lo e a destacar o que eles consideram ter sido os aspectos ou as passagens (da declaração) mais importantes. Há muito que as pessoas perceberam o que eu penso de todo este processo. E fosse qual fosse a decisão tomada por Alberto João Jardim - esta que ontem revelou, a opção pensada e reflectida por uma posição de expectativa, estrategicamente pensada, fosse a decisão de avançar com a sua candidatura, independentemente de se tratar de um perigoso aventureirismo e de não se conhecerem os resultados que dela resultariam - eu estaria ao seu lado, apoiando-o. Salvo quanto a uma opção por ele tomada, na medida em que, com a mesma liberdade que reconheço a qualquer pessoa de escolher e decidir em função da sua consciência, ao contrário do que o Presidente do PSD da Madeira revelou – o seu apoio a Santana Lopes – recuso, em consciência e com convicção, dar o meu voto a uma pessoa, contra a qual nada de move em termos pessoais, como aliás facilmente se imagina, mas porque no plano político e partidário, além de não o considerar uma mais-valia para o PSD, não concebo que a revolução que eu entendo que o PSD precisa, urgentemente, nunca se fará com pessoas que protagonizam a continuidade, mais do mesmo, um passado desastroso do qual foi protagonista. Ou será que podemos esquecer, três escassos anos depois (!) que foi com Santana Lopes que o PSD obteve um dos seus piores resultados de sempre e, pior do que isso, que foi com Santana Lopes que os socialistas conseguiram o que nunca antes lograram alcançar, nem com o líder histórico e seu fundador, Mário Soares: uma maioria absoluta em nome da qual conseguiram, há que reconhecer, alguns aspectos positivos, mas em nome da qual, também cometeram também alguns abusos perfeitamente dispensáveis sobretudo quanto à forma como trataram com a Madeira.
Por natural falta de espaço, e para não ser muito incomodativo, particularmente para os que se derem ao trabalho de me lerem, limitar-me-ei, nesta parte final, a afirmar que continuo a pensar que Cavaco Silva, directa ou indirectamente, até pelo relacionamento que tem com Manuela Ferreira Leite, não pode deixar de ter sido ouvido previamente pela candidata quanto à decisão tomada. Confesso que não acredito que o Presidente das República, naturalmente que não nessa qualidade, mas enquanto amigo pessoal da sua conselheira de Estado (Ferreira Leite é membro do Conselho de Estado por escolha directa de Cavaco Silva), e independentemente do facto de tudo ter feito, durante a sua visita à Madeira – altura em que começaram estes problemas todos – para distanciar-se de tudo o que se passava no PSD, não tenha sido abordado, situação que me parece, pelo que referi anteriormente, perfeitamente natural. A questão que gostaria de colocar - mas que desenvolverei amanhã - tem a ver com o facto de saber o que é que mais interessa a Cavaco Silva na perspectiva da reeleição, se um PSD com capacidade de vencer as eleições legislativas, hipótese que em certa medida ameaçaria o seu natural desejo de reeleição em 2010, ou se um PSD enfraquecido e na oposição, hipótese que estaria mais próxima da opção dos portugueses que sempre recusaram a possibilidade – sonhada por Sá Carneiro – de uma maioria, um Governo e um Presidente, todos da mesma área política. Ou seja, importaria saber se a Cavaco Silva, para viabilizar a reeleição presidencial, o importante será ou não uma realidade política e parlamentar idêntica, ou próxima da actual, sendo quem, neste caso, a fragilidade dos social-democratas estaria directamente relacionada com a respectiva liderança. Parece complicado? Garanto que não .Como veremos….

Luís Filipe Malheiro (in "Jornal da Madeira", 15 de Maio de 2008)

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Large ship passing under bridge


The World's Largest Cruise Ship

Opinião: A DECLARAÇÃO E O ESTOIRO

I. Alberto João Jardim faz hoje a anunciada declaração aos madeirenses, na sede do PSD da Madeira, na qual abordará a sua posição relativamente à situação interna no PSD nacional e anunciará a sua decisão. Creio, até pelas declarações feitas depois de ter regressado de Londres, que João Jardim vai colocar-se à margem do processo, o que implica a constatação de que recebeu indicações que não davam como garantida a sua vitória, dado que ele próprio tinha revelado aos jornalistas que só seria candidato se tivesse a certeza que ganharia o partido. Pessoalmente, e considerando a conjugação de vários factores, sobre os quais não vou me pronunciar, até porque resultam de uma opinião pessoal que, por isso, vale o que vale, acho que faz bem, mais não seja, na perspectiva, ela própria pouco consistente dada a memória curta e os malabarismos que caracterizam o PSD nacional, de se reservar para 2009, altura em que o partido provavelmente quererá dar a grande safanão que precisa e que não pode ser feito pelos sectores elitistas, grandes responsáveis pelo actual estado de coisas e muito menos pelos protagonistas que há décadas, rotativamente, disputam entre si protagonismos, influencias, maiores ou menores capacidades de manipulação, e o poder.
Há claramente no partido uma tentativa de branqueamento de responsabilidades e de incompetentes, que regressam ao palco como se não tivessem sido eles os causadores do maior desastre eleitoral do PSD e como se não tivesse sido, com eles e por causa deles, que os socialistas obtiveram, o que nunca antes tinham conseguido, a maioria absoluta parlamentar que hoje usam a seu bel-prazer. Tal como referi antes, em determinados momentos, há sempre um momento próprio para se tomarem decisões, por muito arriscadas que elas sejam. Basta olhar o percurso de Francisco Sá Carneiro no PPD – e há dias recordei-o num outro espaço de opinião – e ter presente que ele acabou por impor-se e por ser o líder da antiga AD e chegar a primeiro-ministro, para ternos presente isso mesmo. Qualquer hesitação, qualquer necessidade de esperar, ou para ganhar tempo ou recolher mais informações, acaba por ser fatal, até porque o movimento, normal e natural, relativo aos processos internos nos partidos não para, rola normalmente, e a candidaturas envolvidas (e empenhadas) numa disputa pela liderança, rapidamente disputam entre si, protagonismo, capacidade de manobra e espaço de movimentação e/ou de manipulação. Acho que Alberto João Jardim, caso seja essa a sua decisão, como prevejo, ao afastar-se toma a única opção que neste momento se lhe colocava, provavelmente tendo agora a convicção e a consciência de que, aos poucos – embora desconheça os seus objectivos partidários a curto prazo (mesmo aceitando que eles estarão fortemente condicionados pelo desfecho do ciclo eleitoral de 2009) – precisa de estar mais presente num partido (nacional), cuja maioria da sua base militante provavelmente se divide por escalões etários que nada têm a ver com os primórdios do partido, e que, por isso, maior relutância demonstram em gerar empatias com personalidades do partido, sendo por isso menos susceptíveis de serem influenciadas à distância. Uma coisa eu tenho a certeza: em caso de novo desaire eleitoral do PSD, em 2009, que desejamos não ocorra, provavelmente ouviremos falar, com particular insistência, na sobrevivência do partido, porque nenhuma força partidária resiste a uma sucessão de “directas” e de congressos, para depois bater sistematicamente contra a parede, sem que as opções tomadas pelas elites ou pelo restrito universo militante, tenham qualquer correspondência com as opções, o sentir, as expectativas e a forma de pensar do eleitorado. Neste contexto, não tenho a certeza se o PSD está preparado para iniciar em 2009 mais 4 anos de travessia no deserto, ainda por cima fragilizado e ridicularizado por previsíveis acontecimentos internos, de ajuste de contas, associadas a algum conflito geracional e a uma confrontação mais ampla entre concepções e estratégias políticas, as quais inevitavelmente terão que afastar uma cambada que permanece no partido, apoderando-se dos seus processo de decisão e de eleição, prejudicando-o deliberadamente.

II. Fiquei ontem a saber, pelo Diário Económico, que os quatro maiores bancos privados lucraram menos 182,2 milhões de euros no primeiro trimestre (só o BCP caiu 92,3%!). Ora nem preciso de dizer os efeitos desta situação na política que passará a ser adoptada, concertadamente pela banca portuguesa, e que incidirá, mais uma vez, sobre os clientes, no fundo, sobre os mesmos que normalmente acabam por ser responsabilizados pela “normalização” dos lucros vergonhosos acumulados por uma banca portuguesa que se esquece frequentemente em que país exerce a sua actividade. O referido jornal recorda que os banqueiros já tinham alertado para uma crise financeira no sector e para o impacto que a mesma teria na economia. Os resultados dos quatros maiores bancos privados – BCP, BES, Santander Totta e BPI – caíram, globalmente, 32,6% para os 376,2 milhões de euros nos primeiros três meses de 2008, valor que representa uma perda de 182,2 milhões de euros face aos 558,4 milhões alcançados pelas instituições no primeiro trimestre do ano passado (o Santander Totta e o BES foram os menos penalizados, já que registaram uma subida nos resultados, de 7,5% e 4,4%, respectivamente). Os dois bancos que estiveram envolvidos numa encenação em torno de uma OPA falhada e de uma tentativa de fusão fracassada, a que se junto uma série de escândalos e uma crise de liderança (BCP), acabaram por ser os mais fortemente penalizados. Num país que frequentemente alguns querem confundir com o “paraíso” e onde ninguém teve a coragem de reconhecer que a crise que sacudiu a banca, o sector imobiliário e a economia mundial na generalizada, dificilmente deixaria de ter influência na madeira, estas notícias são deveras esclarecedoras e indiciam a inevitabilidade de um conjunto de medidas que garantam aos bancos alterar esta tendência quem, a manter-se, poderá criar uma crise, que não seria nova na Europa, que acabaria por questionar a sobrevivência de algumas destas instituições mais vulneráveis.
Luís Filipe Malheiro (in Jornal da Madeira, 14 de Maio de 2008)

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